sábado, 14 de fevereiro de 2009

Novas Ondas...


Texto per
tencente
ao conto
embru
lhado
com
Grazzi Yatña,
para me
lhor
enten
dimento e
informa
ções,
seguir
O início está aqui mesmo,
o fim está em algum lugar,
onde a sanidade
não deverá habitar.
Boa
diversão.
Paulo Castro.
º
Claro que ela não morreu com a pancada que lhe dei. Ela não é dada a esse tipo de coisas, como morrer ou manter a mesma escova dentária por mais de uma semana. Apenas o pai viera tomar satisfações comigo e não preciso me alongar, ele tinha muito de "old school" na maneira de ser violento, estava ultrapassado e eu um novo e aplicado aluno da nova violência. Eu tinha lhe dito que a porta estaria aberta e mesmo assim ele precicou chuta-la e apontar a pistola com mira escura para todos cantos da sala. Desnecessário e imbecil. Ela herdou isso dele, mas melhorou as coisas: sabia ser desnecessária e imbecil como forma de seduzir.
Pulei de trás do sofá com a idéia que nasceu mesmo ali, na porta chutada com a bota militar, em questão de segundos. Ou a metade de um segundo. Ou um riso caçado estupidamente pela mira laser: acertei sua cara com ambas as mãos. Mas dessa vez, do salto, o fiz até que o peito parasse de subir e descer. Até eu ter a certeza. Até o amor que lhe faltava não segurar minha saliva que voava para todos os cantos.
º
Arrumei o necrotério-enfermaria na cozinha. Sempre que me preparava um sopão de salsichas averiguava a evolução do plano: ambos tinham quase a mesma altura quando eu coloquei as botas nela e o deixei descalço. Claro que um dia o rosto dela fora mais refinado do que os roxos e inchaços de agora, a boca mais gostosa do que essa mandíbula em torcicolo que o tubo do respirador ( vendem essas coisas com uma espantosa facilidade, bem como atlas de anatomia, kits cirúrgicos, e literatura e poesia. Não percebem como tudo isso é extremamente suspeito ), um dia o rosto dela me convenceu com um sopro de cigarro na cara e tosse a viver um tipo diferente de relacionamento. Agora injeto silicone no seu queixo, para o formato exato.
Relacionamento é vida. Bom título para um auto-ajuda comprado na rodoviária.
Tenho certeza que ao acordar, ela irá me amar ainda mais pelas atitudes do agora.
º
Acertei mais um soco no nariz dela. Com a tesoura, o bisturi e as linhas, fiz o desvio de septo no ângulo exato do corpo na maca ao lado. Muito bem, teria agora uma pessoa que ronca e não ronrona ao dormir. Cartilagens do ofício ou ossos da paixão. Quase sorri disso.
º
Instalei inicialmente o expansor de orelha de 2cm em seu clítoris. O tatuador disse que eu poderia aumentar para 4 cm em duas semanas. E assim por diante. Ele achava que eu falava da orelha e de alguém acordado. Fui exponenciando o diâmetro a cada três dias.
º
Mesmo alguém com corte chanel tem muito cabelo. Depois de fazer o corte militar, peguei o ônibus e lancei tudo na nascente do infecto rio. Li coisas sobre crimes, dentes e fios de cabelo.
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O pai começou a feder com o passar dos dias. O sopão ficava indigesto.
"O amor supera tudo". Outro bom título de ler esperando o avião.
Passei a treinar a penetração anal no cadáver. Beijava sua nuca e dizia que o amava profundamente. Interessante, comprei um livro de receitas, uma passagem no supermercado luxo 24 horas, e meu apetite ficou cada dia mais refinado. Começo a entender as bichas e seus scargots.
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Ele tinha algo de oriental nos olhos. Gatuno.
Com dois pequenos cortes ela ganhou também essa feição. Ficou lá sangrando uns três dias, mas se eu desse os pontos, como afirmava o "Compêndio de Cirurgia Plástica Contemporânea & Body Modification", eu perderia o efeito desejado.
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Alargador de orelha número 18. O tatuador disse que depois gostaria de ver o trabalho, fotografar, que iria para seu álbum de clientes mais ousados. Tirei a arma, apontei a mira laser para sua testa e disse que ele apenas me fornecia o material, mas que todo trabalho estava sendo meu. Hell Angel de merda. Vai ouvir heavy metal e me deixe trabalhar em paz.
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A rigidez cadavérica deixava o sexo anal com o pai ainda mais excitante e refrescante. Alguém pode me culpar? Com um verão desses !
º
A sonda nasogástrica a alimentava essencialmente de proteínas. Passava as noites na beira do leito, exercitando seus braços, levantando as pernas, orando, fazendo-a ouvir música eletrônica nos fones dia-e-noite.
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O objetivo tinha sido alcançado. Eu preciava fazer algo para que acordasse. Já respirava sem a ajuda de tubos, e diminui radicalmente as doses de heroína que atolava em suas veias. Teve algumas convulsões por dependência, mas nada de acordar. A bela adormecida. Acho que um dia eu tive uma mãe, até mesmo um pai mais sensível, e ele me lia isso( eu sou a Bela Acordada, Flaubert e Morfeu) e Rei Leão antes de dormir. Mudei. Passei a comer o cu dela. Morder-lhe as orelhas. "Te amo, te amo, ai, ai, te amo, Nossa !"
º
Comprei a picanheira por uma pechincha.
- Picanha saiu de moda, cara - me disse o rapazote de boné mano brown virado ao contrário.
- O que as pessoas andam comendo agora ?
- Com a crise, acho que nem pão véio...ahahahahahaha.
- Sei. Pão velho.
º
Até virar pó, de maneira e cor homogêneas, um corpo humano deve ser assado no bafo, por três dias. "Não tenha pressa, tenha eficácia". Como ainda não pensaram em um título como esse, a melhoria editorial do velho ditado? Adeus, papai. Nos vemos em breve, um pouco mudados, eu sei. Carvão ativado.
º
Ela acordou depois de dois meses e cinco dias. Não entendo de numerologia. Anotar isso e pregar com imã de geladeira.
- Porra...ai....sou dor.
- Oi, minha graça. Saudades. Te amo.
- Minha voz está diferen....DIFERENTE !!!!
- Calma, calma...psiu...foram os hormônios de cavalo. Você vai entender tudo. E vai gostar.
- Dói.....eu dói.....
- Nascer é assim. Morrer não sei.
- Eu lembro. Você me olhou e.....Filho da putzzz.....ai.
- Anotei aqui a série de perguntas que obviamente você faria. E não estamos no cinema. As respostas são as mais didáticas que consegui. Fiz em versinhos e hai-kais.
E expliquei tudo.
A reação foi melhor do que a imaginara.
Ela gargalhava a cada detalhe. Dava socos na mesa, potentes pancadas. Rachando e sendo.
- Preciso treinar a falsificação da assinatura dele, acho que em pouco tempo consigo igual.
- Sim. E se acostumar em ter agora um pinto entre as pernas. Eu quis um bem largo e grande.
E joguei charme, fingindo vergonha:
- Estou louco para que você me coma... e me chame de "filho amado".
- Cara....isso aqui fica duro mesmo ! E molhado. Eu te enrabaria agora.
- Deixe isso pra comemoração.
- Sim.....me passe aqui os vidros com o pó do velho.
- Claro, todo seu.
- Nosso, amor. Nosso. E o espelho. Rá. Eu estou horrível ! Adorei.
- Horrível não. Apenas parecida. Sem querer me gabar, idêntica. Ou idêntico.
- Pão ?
- Sim. Pensei em usar esse pó todo para fazermos pão. E meio que ajudar os esfomeados dos morros. Distribuir para alguma causa humanista. ONGs.
- Eu vou poder comer um ?
- Um para nós dois. Com vinho tinto. Aos céus.
- E depois a comemoração ? Em que vou te foder, querido ?
- Isso mesmo, amado papai. Nunca te amei tanto antes de te conhecer.
- E depois dizem que um casal acaba não dando certo com o tempo.
- As pessoas não lêem, é uma pena. Tem um ótímo, "Casais Inteligentes Enriquecem Juntos".
- Me parece perfeito.
- E é. Amada. Amado.
- Me beija, vem....
- Hum. Benditas injeções. A barba penica delícia....
º

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Sombras nas Ostras.


Recomendo que sigam as últimas postagens aqui e em http://grazziencontro.blogspot.com, para tomarem pé da situação do projeto.
Grazzi escreve como bem entender um trecho da história, eu, em seguida, outro. Maiores informações nas publicações abaixo e na Grazzi. Um texto pode ser lido separadamente. Mas ganha em riqueza se for feito pareado, Paulo & Grazzi, cada rodada. Está uma delícia assim. Comentários de um texto, favor fazar nele mesmo e não em outro do Projeto. Grato. Boa diversão.
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***** Sombras nas Ostras *****
" Depende do acaso que reencontremos ou não esse objeto antes de morrer."
( "No Caminho de Swann", Proust ).
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Naquele dia o carteiro era outro cara. Nem ao menos vestido de amarelo e azul e uma caneta bic. Um senhor forte, alto, bem vestido, gravata borboleta, me passou as contas e em seguida me deu um murro na cara.
Limpei a boca e dois dentes na água e na luz. Respectivamente.
- Bom dia, postman.
- Ela é minha filha e nem sabe disso. Mas agora você sabe. Assobie errado, sabiá, e arranco seu timo para a moela de reconciliação familiar, vai tarde.
E se foi batendo a porta. Códigos de barra em hemorragia. Bala de gelo e o sofá com as overtures de Wagner na vitrola. Seguindo as regras, peguei papel e mandei algo como:
"Charlie Parker tovaca be bop com uma magnum . 44 entre os lábios".
Tomara que você goste. Demorou para sair. Logo antes do desmaio por inanição e dor. Precisamos temperar esses malditos cubos de gelume.
º
Coincidência ou não, ou como sempre, mais ou menos, a brincadeira era nova no dia seguinte.
Eu andava na frente, fazendo coisas cotidianas, cantando garotas de rímel e emocore, pegando o metrô, indo ao jockey. E você estava atrás de mim, imitando e repetindo cada ato meu. Com a câmera de filmagem em mãos. Mas captava sua própria sombra. Não me mirava. A objetiva nas suas canelas. A boca latejando. Ouvi você rindo quando o carinha do banco não aceitou as contas.
- Ai, que noja !!! Creda !!!
Mais ou menos coincidência. Atrás de mim você gargalhava. Um riso espasmódico de choro desesperado. O desespero: o sentimento mais fácil de fingir quando negociatas afetivas estão em jogo.
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Ficamos um bom tempo nisso, e não recebíamos mais contas. "Débito automático". Ou "ande na linha, garoto". O teto de um templo despencar pode ser considerado um milagre? E sua sombra gemia bufanesca enquanto o dentista ( "Primeiro andar, segunda sala depois da Imobiliária "Futurex") enfiava as próteses e coçava o cu, o rabo e minha boca, cheiro de self-service. Existe soco no toba ? Dizem que é amor, os sensíveis.
º
Em casa assistíamos aos vídeos. Você fazia pipocas. Eu fumava, colorindo as gazes que faziam alascas no meu maxilar. Paredes, ruas, grafites, e sua sombra sendo eu mesmo. A minha. MAS É ARTE, TÁ PERDOADO ! De auto-estima estou afins de uma dose caprichada de heroína antes de tocar para o público de marinheiros que ao me alisararem ao porto ( sangue brotando da gengiva em jorros súbitos e sórdidos), alisavam tua sombra e pela primeira vez nessa vida, gozamos juntos. Pra mim foi urro de náusea, porém você quem diz e acha lindo & você é minha sombra.
- Ei, Jorjão, desce um conhaque ! Sabe que minha mulherzinha não passa da minha sombra ?! Bem, desce dois. Melhor. A dela, dupla dose.
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O carteiro bem vestido sumiu para reaparecer um tempo depois. Quando o vi subindo a escada espiral, peguei logo o saxofone para me proteger.
Mas foi bastante citadino e apenas me entregou um bilhete dobrado à la Amigo Secreto:
" Atrás de um grande imbecil, há uma grande mulher. Queime isso. Presunto dos teus bagos no futuro do azeite fervente".
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Mais ou menos. Isso das coincidências. Logo após o bilhete, novas regras no trenzinho.
Você andaria na frente, tomando atitudes e táxis e garotas de programa.
Eu filmaria tua sombra e tentaria - isolado - te imitar os atos.
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A tarde na praia foi agradável, deixei a câmera cair na areia, moleque passou correndo, sujou a lente. De curto-circuito minha atitude medular foi correr atrás do pivete. Mas a sua sombra o abraçava logo adiante. SOCIALISTA ! SANDINISTA! DADAÍSTA ! Me ajuntei à vocês e fomos três espécies de anjos com íris de sol. Forçado, mas pra trucar: com uma torcida leve de cabeça, constatei:
Não havia sombra atrás de mim. De certo o horário, nada demais. Sei.
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ECT= Eletro-Convulso Terapia.
ECT= Empresa de Correios & Telégrafos.
Dizem que em nosso paisinho de merda as duas coisas são muito eficazes, pontuais e cheias de ciência e organização.
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Nos desabraçamos do ligeira e voltamos a pé para casa.
- Precisamos fazer umas trilhas ! Isso sim ! Te falta saúde e beleza !
Tropeçando no calçadão ficava mais fácil de dissimular: eu realmente estava sem sombra.
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Quando preparamos pipocas(-lhe) e sangue com charuto e rum(-me), o vídeo deixava claro:
Sua sombra estava adquirindo cores. E alto-relevos. Batom cereja dizendo claramete poltergeists de poemas que não eram meus, mas louvores às bravatas e antigos amantes e um tal de "papai carinho no banho".
Você pulava nas almofadas, passava pipocas na minha gengiva e tudo aquilo era bem o máximo para você.
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Seguinte, se um cara não teve pai, arruma um substituto. Um exemplo masculino. Acessei o mais próximo:
Fechei ambas as mãos e lhe meti bem no meio da cara. Querida, você apagou. Liguei a câmera, apaguei todas aquelas merdas de filmes raptores e acionei o GRAVAR em "close" na sua cara. Em poucos minutos ambos os olhos pareciam de guaximins atropelados na BR 220. A língua pendendo pra fora. Esse detalhe foi definitivamente uma zerada no placar da respeitabiliade erótica. O nariz soltava uma enxurrada de verdume couve com filetes de outros restos do almoço. Uma pipoca entupiu sua narina esquerda. A outra começou a fazer bolhas.
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Só então fui conferir: lá estava minha sombra. Longilínea como uma seta que dava direto no aparelho de telefone. Eu não tinha apenas sombras. Tinha enormes asas negras. Obrigado, papai carinho nenem. Eu poderia voar rente à bocarra dos crocodilos no Zoo.
Então - mais ou menos isso, da coincidência - o aparelho começou seu ganido agudo e ritmado, vibrattio. Caminhei com calma, quase missão, das certezas dessa vida sem bonus track.
- Garoto.
- Eu mesmo.
- Você não deveria ter feito isso.
- Sei, em mulher, nem com uma rosa. Mas fiz. Prefere Parker ou Dirty Harry, papai ?
- Estou indo aí. E espero que ela esteja viva. De qualquer forma, não será agradável para você, garoto.
- Miles Davis também é de foder a xota da macaca. Venha, papai. A porta está aberta. É só entrar. Estou preparadinho, seu merda. E acho que ela não está respirando.
- Filho de uma puta !
- Isso aí. Agora chega de papo. John Wayne ou Bruce Wills ? Até mais. Li num livro: depois de quinze minutos sem irrigação o cérebro vira borda com catupiry. Inté, florista de pediatra subornado.
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É isso aí, amiguinhos solitários !
Tenham um bom exemplo fálico e uma garota tutti-fruti-cult. Contem comigo nas confusões.
Mas agora seu herói predileto precisa arrumar uns truques por aqui.
Nos vemos em breve. E tudo pode ser corrigido, ok ? ( PISCA )
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