terça-feira, 12 de junho de 2007

Literatura de Gente Média.


Todo ninguém já escreveu tudo, cada vez mais difícil passar a fome, mata o homem e come, dizia minha avó, todo mundo já escreveu nada, a única pista de caça ao sabor dos dentes é a gula por essas manchas de baton deixadas nos postes, uma coreografia estática ou um mapa animado, a molecada queimando fumo na praça. Eu atrás dos fiapos de meia 100% qualquer coisa, mistura de tudo, a molecada tomando água mineral, o lençól freático contaminado, comungam hormônios-ectasy , as meninas que vão chegando, e que tem medo do amor, não usam meias, nem batons, apenas feridas espalhadas nos rostos, suas mães boiam mortas afogadas dentro de fundo mais oceano subsolo do lençol freático. O que não causa certa radicalide em buscar as próprias raízes.
O cheiro fica na minha roupa, o odor forte daquele cânhamo doce demais, a fé na lepra, a confiança da contaminação das agulhas, só não jorro tripas pois mesmo isso, todos tudos já escreveram, venderam livros, fizeram doutorado. E
Escrever virou pequeno vício de all star, vodka e as torpezas que caracterizam as revistas de fofoca, é um mundo criminoso o das letras, os livros, os blogs, as bíblias sacanas, incluindo aí os mórmons do fetichismo alternativo , e gente que acha que...não é essa a questão, afinal, mas onde foram parar as manchas de batom ?
Sempre que me arrisco, vem a vida, sempre que me guardo, vem a escrita, mas que escrita, que vida se trata nesse tropeçar sem ter bebido, sem estar desesperado, não quero te amar nem que seja um pouco, nada disso, não moro em uma quitinete, não passo ao pão e vinho, meu sapato não está furado, não sou voyeur, apenas regularmente curioso, tropeço pedras e arrebites por pura descompustura corporal, falta de jeito, atrapalhação, o que não me cora a face, vaidade não pra tanto, não é ainda madrugada, não passo fome, meus poemas não sofrem de sangue com gilete, meus amigos não são escritores, nem ao menos meus inimigos, e se tenho uns ou outros, é pela vida morna com lucros adicionais, não contrai tuberculose, dívidas de jogo, epilepsia russa, pelo pau nenhum bicho mortal.Nem sempre gosto de literatura marginal, tenho jeans rasgadas, das quais me arrependo dia ou outro, as pessoas me dão "bom dia", nem sempre me acham um bruto ou otário, as mulheres não me passam mais a perna do que eu passo nelas, nunca casei, nunca abracei os tornozelos ( ??) no banheiro por causa de solidão fingida, e assim sendo, acredito nas boas e más intenções das revistas semanais, bem como não vejo charme em tomar pingado de padaria, a não ser que queira muito o cigarro, essa maneira paralela de ver as coisas ouvindo rock inglês se o escritor tem até 25, de ver a molecada fumenta e sentir-se o papai luciferiano ouvindo jazz, se o anti-demiurgo sôfrego passou dos 30, e assim sendo até não ter a mínima curiosidade de andar pela rua seguindo manchas de batom, fiapos de meias, papel amassadinho de chocolate Bis. Gente bestiária que tiram a tesão quase católica de dementar em paz, reclusos em Cidades Grandes e Urbanóides, sem muita idéia das coisas que Ítalo Calvino fez Marco Polo falar: à quisa de aconselhamento, se for para fazer da metrólole, personagem, que ao menos, como fez o italiano boa-praça e sorridente, sem suicidecos( autores pitadinha de limão na cachaça[ tequila disfaçada] têm cara feia e a vaga noção clubber GLS do que pode ser um fim de noite, justificável apenas se uma mulher nua refletir a lua, vista do banheiro, enquanto rasteja o narrador oniausente), como Calvino teve a finura de ressaltar, que sejam Invisíveis, tais Cidades...
A caixa de Bis morre numa valeta, a mão da mãe da puta menina moleca pega e quer levar pra suas parceiras em histeria, lá dos lençóis freáticos que acumulam papéis. ( Minha maldição de cansaço literário deve vir daquela feita em que me limpei com várias páginas de "Plexus", não por condenar Miller, gosto dele um razoável tanto, mas por necessidade naquela praia deserta, aliás, bem pertinho de Paraty...). Piso a tempo na mão galhosa da velha que já deve ter comprado muito fanzine na década de 80, cabelo oxigenado, gel lantejolado, e há de recordar os tempos áureos das gafieiras no Madame Satã. A literatura de bolso ( um oferecimento LP & M editores ) me dá uma arma no bolso, algo como uma automática nazistóide está de bom tamanho, um sobretudo está em mim, roubei na alguma sessão de cine cult Unibanco, e assim, anasalado já que procurei por esse bocejo proseado:
- Velha, viu passar a moça de eternos batons ?
Ela goteja coisas meladas na garganta frenosa.
- Viu, porra ?
( A "porra" é oferecimento do pobre Paulo César Pereio, que mal consegue dar uma entrevista sem estar chapado...não é possível que eu me identifique heroicamente para com quem sinto compaixão...)
- Ah, foi pra lá ! Brains ! Brains ! ( um ofereciemento "A Noite dos Mortos Vivos", todo escritor desse naipe curte cultura pop trash hip hop hype e a mistura disso tudo em incompetência sintática...).
E joga o dedo em direção à rodoviária, saída leste, o dedo vai mesmo voando( um ofereciemento das piadas que tais autores gostam de piadar(neologismo lhes são caros) nos bares da Vila Madalena, adaptando musiquetas do Lulu Santos para fazer rir as moças de franjas emplastadas, algum lesbianismo cabeça e tattos, com curso MBA em Photoshop Aplicado ao Orkut, além de se divertirem nos últimos meses lá na baguncinha frenética e woodstoqueana da USP...) :
- "Já não tenho dedos pra contar de quantos barrancos despenquei, de quantas pedras me atiraram ou quantas atirei" !
- Ahahahah ( ou a variação: kkkkkkk, entre outras, como smiles e emotions), cara, você é muito ótimo e mesmo feio, simbora pra praça com a molecada, chame o bar inteiro, vamos achar uma maneira torpe de você construir à partir de mim mesma uma personagem que chupa câmeras digitais e caralhos emancipados por editoras alternativas...
Subo a entrada íngreme leste e apenas estou vestido sem mais nada de especial, calça de pano bege, camiseta branca - limpa - barba feita adequadamente.
Lá está o ônibus jogando fumaça como todo ônibus joga, sem com isso, criar nenhum clima que me faça lágrimas, ou pior, citações.
Subo.
Uso.
Frases.
Curtas.
Não.
Por.
Estilo.
Mas.
Por.
Folêgo.
Curto.
Lá está ela ao fundo, retocando o batom, amassando a meia, que enfia no cinzeiro redefinido em sua utilidade, não pela arte, mas por uma boa e velha lei de convivência entre as pessoas. Sem rebeldia na voz - nem fina nem grossa, muito menos rouca de charros e ressacas desidratadas- me pede:
- Tem um Bis ?
- Tenho fome também. Acho que podemos ligar pro disque-pizza, se você não se importar que esse frete nos leve para minha casa. Já disse: é ampla.
- Não. Nem te conheço, sei que vamos ficar juntos no final, mas antes de tudo, fico sem chocolate ou os quatro queijos, a que mais gosto, antes de tudo, antes que todos escrevam sobre a delícia da santa mediocridade, eu te digo cara, mounsier, como quiser, sinto que precisamos começar de onde os livros deveriam começar, bem como os filmes, mesmo os curtas de sexo, miséria e loucura, ou seja, do início.
- Acho mais que bom.Que tal um lanche da tarde amanhã? No centro ?
- O lugar é bacana ?
- Sim, é limpo e as garçonetes sorriem.
- É isso mesmo. Acho mais que ótimo. Você odeia Olavo Bilac, cara, sir ?
- Não. Ele pode ser útil. Como pode ser inútil. Todos são assim. Eu e você, inclusos.
- Feitíssimo, meu amigo, meu amante, futuro maridinho sem pratos quebrados de chilique estético.
- Posso mandar o motorista fazer o que deve ?
- Claro.
- Ô motô, leve eu menos ela, cada um pra sua casa. Amanhã acordo cedo e tenho que trabalhar, algo meio besta, meio legal, enfim, alguém precisa se preocupar com as contas e sorrir quando sobram alguns trocados pra ajudar alguém ou beber uma cervejinha. Toca a barca.
- Feito, chefia.
Aceleramos, obedecendo o limite de velocidade.
E assim, fecho os olhos, encosto e dou minha mão à dela.
Com a outra, passa batom, sinto cheiro cereja, sem borrar desesperinhos, como uma boa mulher gente grande.
Vamos nos dar bem e será divertido, sem pesar pro fígado.
Talvez escrevamos juntos. Ainda não somos ninguém e já deixamos todos sendo.
°

7 comentários:

Anônimo disse...

Vc não perdoa ninguém e mesmo assim, eu gosto do que tu escreves, Paulo.Vai entender.
Beijão.
Tati.

Anônimo disse...

vééééi vc respiraria narrando isso tudo?
da onde vc tira essas coisas?
aoiuhauahuioahuaiaihaihaiuhauihauih
me dá essas drogas aki
XD

mto bom o texto...
gostei do fim XD

=*
Thaís NaNaHaRa

Grazzi Yatña disse...

Foi bom pra mim tb, meu bem!
Vou tragar de novo na sua intençao.

Gata Guu disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fabrício Brandão disse...

Obrigado pela visita lá no Diversos Afins, meu caro. Por aqui, as linhas percorrem o espaço dinâmico da mente. Verborragia plena de sentidos da busca.

Saudações!

Borboletas Embriagadas disse...

Paulo,

lá vou eu dizer o de sempre: é o melhor texto seu que já li! Você é MA RA VI LHO SO! Tanta coisa tão diferente que você junta e transforma tudo numa teia perfeita. Quero este texto guardado comigo!

Mil Beijos!

Flor*

Thaty Marcondes disse...

Li, sem respirar, talvez da forma em que o texto tenha sido concebido, gestado, parido, escarrado, como todo bom texto seu que me provoca.
Coçando as idéias, fervendo (a falta) de boas intenções.
Um filho-texto (talvez medíocre, porém, honesto - será?), virá a seu tempo.

beijo