quarta-feira, 9 de maio de 2007

Inverno Dos Ternos Rasgados.












Dia que começa em madrugada subitamente fria, quando dividido entre o desconforto do arrepio e a delícia dos aconchegos - únicos garantidos - você fica no dilema que nos caracteriza, algo de angústia feliz, tipicamente kiekegardeana, o saber-se infinito e finito ao mesmo tempo, mas acima de tudo, o que não entenderam os românticos, é saber-se, abrindo com isso todo um espaço de prazeres, mesmo aqueles relacionados com a febre, escalda-pés e não tem coisa melhor, o espirro forte, sem vergonha, mucoso, que arremessa a doença longe em matéria que deixa de lhe fazer parte(...)





(...)e mancha a parede branca, promessa de outra ilusão, com o que seria demarcação ( giz ao redor do crime contra a etiqueta) do nojo.





Muito sobre a vida, essas mudanças súbitas no tempo, anoitecer como promessa, já fui marinheiro, mas ainda assim, é apenas a marca de um encontro amoroso com as leis do acaso natural. Quando o inesperado mais lotado de esperança chega, criança que teme a grande caixa fechada sobre a árvore de Natal, ou acertam MUITO ou erraram DESGRAÇADAMENTE, não se espera mais, é o momento de jogar coisas pra fora do armário, cobertores, meias, alguns livros que só combinam com o frio, e mais que isso, alguns afetos que só combinam com os corpos plurais, talvez monstruosos, pertencentes ao bestiário dos carinhos:





- Que venham sobre mim ! Montinho !





E eles vêm.





Escolher o que será de almoço, algo quente, algo de fumaça e melhor ainda, o céu da boca aguardando Masoch, a queimadura santa e divina do macarrão com brócolis.


A conversa corre, exatamente pra mim assim é perfeita, sobre tudo e sobre nada, em conclusões-sobremesa de filosofia preguiçosa, por isso mesmo, assumida em seu papel de inutilidade, ainda mais verdadeira que as acaloradas discussões de outrora.





E a tarde, a vagabundice das roupas sobre todas as coisas, a bagunça mais efetiva na calma que a organização anancástica, dos senhores e senhoras de lavabo eucaliptol.





E a noite, quem sabe madrugada, talvez a sorte, revés


de amanhã com sol.



( E saibam, falo também de relógios e seus ponteiros quase vivos, sombreando jardins...)

°

14 comentários:

Anônimo disse...

Oi Paulo
Voltou à ativa?
Adorei este seu texto:tá frio pacas, mesmo...
Bom te ler.
Inté,
Carla

Marah disse...

Graaaaaaaaaaande Paulo! Podes crer que seu escrito aqueceu a tarde fria! Parabéns pelo trabalho. Gostei muito!
Abraços poéticos.
ATT
Silmara Mendes.

Marah disse...

Aparece lá no Recanto das letras quando puder!
www.recantodasletras.com.br

Anônimo disse...

Lembra o João Gilberto Noll, mas ele é chato, na minha opinião, vc não.
É um aquecimento real no peito, brother.
Beijão.
Fred.

Cintia disse...

Lembrei de você, hoje... A Abril mandou propaganda de uma coleção sobre vinhos e eu lembrei do "Vinho para Leigos"... rs

Bjks

Paulo D'Auria disse...

Ah, todo esse universo de prazeres!
Em dias assim deveria ser decretado feriado!
Leríamos blogs, livros e escutaríamos Djavan o dia inteiro:
"Um dia frio, Um bom lugar pra ler um livro"

Abraço,
Paulo D'Auria
http://paulodauria.zip.net

Paulão Fardadão Cheio de Bala disse...

Acordei cedo e saí apressado, com pouca blusa, diz q tava aqui 3 graus.

Célsius...

Tomei no zóio percorrendo o mundo rururbano a trabalho. Mas lembrei da zona semi-favelenta onde morei na infância.

Tive idéia prum texto tbm. Deve ser o frio, condensando o cérebro da gente...

Com adereço, do jeito q vc pediu:

http://nossogarfodecadadia.blogspot.com/

Vanuzia Moreira disse...

Não compreendo as suas emoções, mas ainda assim sinto o prazer de ler as suas linhas o seu texto quente. E nesse frio tem coisa melhor? Ter tem, mas...

Parabéns!!!!!!!!!!!!!!!
Estava sentindo a sua falta.

Anônimo disse...

Nem posso dizer q seu texto aqueceu meu dia,aqui em Maceió tá quente d+ hj. Mas diria q seu texto aqueceu minha alma que encontra-se um tanto gelada.Adorei ti ler!

Anônimo disse...

Carregado de verve, lava de alma vulcão e que sabe trabalhar bem o escrito.
Pauleira, um escrito e tanto este. Com um punch e o corte afiado de um verdadeiro samurai.

Abração.

Anônimo disse...

Não é um texto apenas sobre mudanças climáticas, certo Dr?
Volto sempre.

Ciro disse...

O 'Lamurca' tem toda razão. Mais uma vez, volto a dizer que mudou seu estilo, Paulão! Acredito seriamente no que estou dizendo. Parece que vc está mais "manso", heheheheh!! E isso é muito bom! Pelo menos, eu gosto!
Seu texto está com gosto de tempo frio, com uma garrafa de vinho de frente à lareira, lendo histórias para os filhos.
Grande abraço!

bonecoverde.blogspot.com

Anônimo disse...

úúúúúi... vaporezinhos... hj aki em gyn amanheceu um friozão mesmo...
sério, ou eu não venho ver seus escritos a mto tempo, ou vc mudou alguma coisa...

bjssss

Linn disse...

O âmago da dicotonia encontrada
nos porões da antiga morada?
A saudade vai te fazer olhar o que já não está lá ...
O texto tem o vigor de invernadas,
maternas lembranças, tão doces ...
Senti o medo, o inexato ...
Vejo dois polos: um em movimento rotacional, outro desmembrando-se cálido nos braços do tempo.

PAULO, QUERES SER APANHADO? MAS, O TEU AVÊSSO AINDA ESCORREGA...
BJO.DA LINN.