quarta-feira, 10 de novembro de 2010
A pugelância da insônia feliz.
A insônia feliz talvez seja uma bem aventurança maior ou tão grande quanto o sono repousante. Dormir todos dormem, todas as noites. Eu, incluso. Mas tirar uma madrugada para a insônia, se forçar a ficar acordado, e além disso ainda esquecer ( as coisas continuam existindo, aí entra um certo "espírito oportuno" para escolher a noite a ter de insônia) os problemas, ou casualmente, no decorrer das horas, observa-los com uma distância que eu chamaria de religiosa, no sentido que entendo o termo, o que o povo diz nas ruas: o que não tem solução, solucionado está. Óbvia idiotice, mas dentro de um hedonismo dos e nos ponteiros, horas leves, distanciar-se -não covardemente - o sol virá - Apolo não é um grande filho da puta com seu mustang em chamas- das questões que me dariam uma insônia desesperada.
Cabe dizer: Sempre fui insone. São anos de treinos para atingir o esplendor no escuro da insônia feliz. Ou já vi gente que nasce com o dom. Nasci com poucos dons.
A mulher que eu amo dorme agora. Sei que mesmo no verão mais escroto ela gosta de ao menos um lençol sobre ela. Me faz feliz cobri-la como um beijo em tecido. Aquele livro encostado, esquecido, bravamente resistiu aos cupins.O filme que se queira ver sem luz. Percebe-se com esses exemplos que me são "decentes", "de salão" prescrever que a insônia feliz deve ser vivida sozinho ou com alguém que entenda o propósito- e mais, entenda o que você diz e mais, silencia. (A mente muda de madrugada, precisa acender POR DENTRO). A insônia feliz não é espaço para discussão ou debates. É um momento de linguagem que transgride a linguagem diária, dos carros de fogo e chatices a dar de comer. Lembro agora nesse momento ( 4:03 a.m.) com leveza, sem ideologia, como se ele estivesse aqui, bem em sua espera última, elixir na mão, beberica, de Marx em sua idéia de "anarquia feliz". Ou seja, o que vem depois do comunismo. Em outras palavras, quando a luta de classes não é mais necessária. Obrigado, Marx. Termine a bebida e voe como outros tantos fantasmas simpáticos que me visitam. Não lhe tenho mais tanto saco. Nada de palhaços. Evite fantasmas de palhaços. Eles fodem tudo, expulse-os com violência e vigor crescente até que pulem fora.
Também não descobri a insônia feliz ( quem inventa uma transgressão ? ou melhor: quando, como, algo passa a ser uma ? ), apenas a nomeei de minha forma e tento na medida qua a madrugada avança... - ah, o cão suspira às minhas costas, ainda longe do seu dever em correrias sem sentido ( isso me faz amar os cachorros, o sem sentido de suas atividades, ao NOSSO entendimento, durmam cachorrinhos, durmam sábios cães velhos e com olhos de mais sabedoria do que o sujeito que o afaga, durmam, vocês têm a liberdade a cada dia de suas vidas ).
E não pensem que não tenho mais insônias desesperadas. Que sou um mestre, guru ou o maior caralho de algo como kung-fu ou sacações.
O dia-a-dia, bem o queria um assim, costuma ser cheio e você precisa de um bom tempo de sono para se recuperar. Mais cheio, um tipo que sim, me agrada ( com simplicidade de um trabalho modesto)com felicidade. Horas trabalhadas. Mesmo sem registro, direito trabalhista algum.
Eu preciso agitar as coisas- pensa meu eu amanhã. Mas ele é outro. Estrangeiro sem graça no agora.
Issos não me preocupam nesse exato momento.
A insônia feliz faz com que planos de também felicidade breve, futura se tornem mais fáceis de serem concretizados, o pessimismo diminui, enfim, talvez seja a estrela maligna a seduzir. Ou um epilepsia latente. Foda-se. Mas te dá pique, depois do descanso - isso fica ao correr do sol na orbe veraneio atual - para LUTAR por aquilo que você quer( Por favor, não é conselho. É treino de saber dar porradas e continuar doce). Se for bacana, como o amor, a coisa mais bacana do mundo e viver junto & pregar fotos nossas na parede do corredor do novo apartamento & tal & etc, ai.
Ou seja. A insônia feliz é útil. Estar feliz aqui, agora, não me faz menos pragmático que o normal, apenas mais humilde, ou seja: saber quando usar minhas bolas e não virar um jogador de boliche imbecil de merda na mola bate e volta das invejas que carregam e, sei lá, devemos carregar muita desgraceira condenável também, mas o olho que sacaria isso em nós está no meio da bunda. Quem já tomou tem chance até.
O dia amanhaceu.
Chuvisco e acordes de ansiedade pelo que virá de bom.
O de ruim ainda não me pegou.
º
( Não confundir isso com uma crônica. É o resultado desencanado. Não confundir isso com um elogio aos notívagos. Geralmente são chatos e não sabem beber ou acreditam que sabem, que arrasam e não se ligam em quem é Paulo Cesar Peréio( rei das insônias tesudas), mas sempre falam de futebol e bocetas).
º
terça-feira, 14 de setembro de 2010
A Pedagogia Amorosa.
Antes de começarmos aviso que mudei em essência e ser-no-mundo.
Todo escritor quer palmas e garotas aplaudindo.
Não quero mais isso.
Nunca mais.
Ninguém me obriga a essa opção, é minha.
Comente apenas quem se sentir tocado, pensado, refletido.
A trangressão minha evoluiu.
Sou muito mais trangressor que antes.
Só sabe quem ama de verdade.
Como saber ?
O calor no peito que depois vira um orgão palpável, acho que apaece no RX.
Isso é punk, isso é beat, isso é anarquia, isso é o palavrão na orelha tosca.
Pois é raro. Quem aqui tem isso, põe o dedo aqui na palma da sorte, sem quiromancia idiota.
Comentários DESNECESSÁRIOS serão apagados.
Bem entendido ?
Então agora minha mente está vazia, terra, roça, horta, folhas pra deitar
e verei o que brota, em liberdade, mas sem exposição e com respeito.
(Na era da super-exposição ultra-realista e da falta de respeito nas escadas feitas de crânios até o sucesso [?], no topo e no @tópico, isso que proponho é que incomoda e nobremente marginaliza. Não que eu me importe mais com isso. Apenas é. )
º
Quem encara, acompanha agora.
Vou correr, juntar coisas, não sei. Apenas sei que a amo e materei as linhas mestras descritas bem acima.
º
Optarei por usar apenas as inicias dos nomes das pessoas próximas à mim. Já citações textuais, musicais, sabe-se lá mais o que receberam, obviamente, o devido crédito. Vários motivos para isso. Uma homenagem à Roland Barthes principalmente em "Fragmentos de Um Discurso Amoroso", mas principalmente para deixar claro que já não sinto mais nenhum prazer de cabaret mafioso em expor as pessoas que amo, amigos, alunos, pacientes em análise e claro, ela.
- Mas sabemos o nome dela, você não esconde em nenhum lugar seu amor, fidelidade,entrega para a pessoa que se chama...
- Silêncio. E delicadeza. Aqui é outro espaço, outra escolha, e então teremos no topo dessa pirâmide afetiva e pulsátil alguém que se chama L.
Eu te amo, L. ( Ao contrário agora de Roland Barthes, não tenho problema algum em dizer que amo alguém, seja L. homem, mulher, velha, jovem...)
º
Abrir o crânio vermelho e não mais cinza feio me faz associar L. com diversas coisas. Exatamente como dizem, enxerga-se a pessoa amada em tudo. Farei agora uma rápida experiência: de olhos fechados pegarei um livro de minha biblioteca, abrirei em qualquer página e encontrarei algo de L. Já retorno com o trecho inevitável. ( E minha biblioteca não é exatamente o que se poderia chamar de "romântica". A.F. já recomendou que para minha melancolia, deveria jogar dois terços dos meus livros fora...)
º
Pois bem. Uma coletânea de poemas de Bejamin Péret. Aqui, está. ( Sorriso).
Péret: Uns ares de vinho
Um pouco ácido
Um pouco doce
Ácido e Doce
Como um novo vulcão
Cuja lava reproduziria indefinidamente teu rosto. (Grifo meu).
L. tem a força de um vulcão de doçuras e acidez, mas ( te amo) o importante é a lava, bela forma dourada mutante, nenhuma tinta merece mais pintar seu rosto, L, o rosto dela, do que a lava incandescente. ( Na enorme praça noturna achamos as mesmas coisas nas nuvens. Inclusive um curioso dragão feliz).
Conversa com N.L. : Me perguntou se na Academia seria possível escrever um trabalho científico em linguagem poética. Sim, agora me parece claro, Ácido e Doce, metodologia e verso. Possível sim, mas apenas em um estado de cérebro avermelhado e erotizado. E então você terá que esperar que o discurso universitário tenha algo de rubro. Então publica. Minha pesquisa sobre os paradigmas diagnósticos me pareceu caótico. Quase o rasgo pela liberdade secundária à minha incompetência como pesquisador. Meu orientador leu, após ouvir minha preocupações e lamúrias de auto-piedade.
M.E.C.P: - Meu caro, já viu como os franceses escrevem ciência ? Perto deles você é um poço de objetividade.
( Escolha a pessoa certa, como M.E.. No amor, torça pela pessoa mais que certa. O que me cabe foi uma solidão fantasiada durante 37 anos...)
Eu já não torcia. Vivia um relacionamento que trazia o inverno, trabalhava em um ambiente nefasto, a saúde com algumas pendências misteriosas. E foi aí que L. Apareceu.
Inicialmente sua prática e seu discurso me seduziram.
Por que?
Pois ela partia de referências que não eram as minhas, mas nas reuniões eu não achava um erro em sua argumentação. Em minha bestialidade da época, só alguém que tivesse as mesmas referências que as minhas poderia aprender algo comigo...
L. não me poupou em nenhum momento, furando muitas vezes meu argumento "médico".
Ácido é Doce.
º
Não cabe aqui uma "história de amor". Elas são cansativas ao extremo.
Meu cérebro vermelho sai do crânio, os lobos, em duas asas, ou um carnaval.
º
Meu analista de 8 anos, J.F., em seus livros usa e abusa da cultura pop para falar de coisas abissais. Nenhum problema nisso. Quem é o casal acima ?
Eu e L. ?
Sim, mas sou Eu, L. e a Perversão dos Bondosos.
Voltemos à foto.
A moça é Kate Moss. Todo mundo já ouviu falar e ama.
Modelo. Modelo de Beleza.
A perversão do mundo do espetáculo.
Não ela, mas sua utilidade.
Porém ela vive e esbarrou no amor.
Forte, louco ( Paulo: reler Breton ).
Mas por quem ?
Por esse elemento estranho e suspeito ( Eu e L. já fomos parados pela polícia. Eu usava uma bengala e ela um lindo chapéu branco florido que só poderia ficar perfeito nela)
Pete Doherty.
Preso várias vezes.
Porte de "dorgas" ( é como eu e L. chamamos as drogas quando assistimos o noticiário, abraçados até as pernas)
Escreveu uma música chamada "Fuck Forever".
Mandava a rainha para um passeio no interior do próprio eguino reto.
Uma vez saiu da prisão e um repórter fez uma pergunta idiota e agressiva.
Deu um "peteleco" no repórter e voltou para a prisão.
Mas na EmeTevê
tudo isso era visto com bons olhos.
No mundo.
A capa do disco de sua banda, "The Libertines"
mostrava ele e sua paixão masculina exibindo os braços como se tivessem acabado de
tomar alguma "dorga" injetável.
Mas tudo bem, o som era bom, bom mesmo ( Eu e B.C. dançavámos anos atrás e ambos desejávamos sexualmente Pete Doherty), mas o que o protegia é que ele estava com a instituição perversa do mundo galante, fashion, belo, magro.
Não culpa de Kate, repito.
Aliás acho que eles se amavam MESMO. ( o que me trouxe possivelmete a associação nas asas vermelhas que brotam da minha cabeça: sensação corporal.)
Mas o PODER estava de olho em Pete.
(Poder no amplo e infindo sentido de Foucault).
O PODER queria pegar PETE e jogá-lo no limpo dos loucos, dos leprosos, enfim.
É necessário entender que o PODER agiu da mesma forma comigo e com L.
Esperou um lapso.
Ou seja.
Newspaper : PETE OBRIGA KATE A CHEIRAR COCAÍNA.
Como assim ?
Ele atolou o dito pó no nariz dela ?
OU seja, entendam,
EU E L. somos juntos o doce Pete.
O que ninguém sabia era seu amor por animais,
a doçura com que trata as pessoas,
seu violão velho cigano
mas que ele não abandona.
EMETEVÊ disse
que Pete era uma tragédia.
Em 2008/2009 Pete lança
seu cd solo,
lindo, acústico,
passa desapercebido,
sem críticas,
o vídeo ( sem problemas fora um beijo gay)
é proibido no Youtube (URL)
Torcem para Amy Winehouse se recuperar,
pois ela é uma cantora de jazz/blues facinho-comercial,
o que Pete nunca fez.
Comercial.
º
Eu+L= Pois, Pete.
Mas lutamos.
E lutar junto é amoroso.
º
Haverá algum sinal que mostre quando é amor e quando não ?
Ou níveis de amorosidade, tendo seu mínimo e seu máximo ?
( Eu e L. deitados de madrugada sobre cobertores, sob o céu e eu lhe mostrei um planeta e ela me mostrou o calor nunca sentido).
Calor no peito e saudades
Saudade física: dói em L.
{ Todo mundo chama outro alguém de "meu amor", é a nova forma de se referir, depois do que nossos pais usavam "benzinho", "meu bem", etc...
Não é novidade a banalização do amor.
Aqui aposto a banalização do vernáculo, sua aplicação em realidades outras, não siginicadas intimimante pelo que se designaria classicamente de amor}
Vontade de fazer coisas que nunca fez.
Ter uma bermuda sport.
Renovar as camisetas.
Explodir em águas.
º
Há de se dormir com as peles encostadas.
Só assim vem o suspiro,
a tranquilidade,
o sono
e acorda-se em voz de sonho ao sol: - Bom dia.
º
(E.T. me fala sobre pele e pele e a similitude com pele e pétala, aos olhos fechados).
º
A luz pela cortina se torna triste sem L.
Com ela,
perfeita para a iluminação
subjetivamente
fisicamente
exata.
º
Ela me pede um cigarro.
Coloco dois na boca.
Acendo ambos.
Um meu,
outro dela.
Encaixo o filtro entre
seus lábios
receptivos.
º
Ela me pede um "vem cá"
(...)
º
As asas vermelhas já estão rachando o teto,
batem, explodem o telhado,
a criança chora,
eu dou meu sorriso
( que ela diz gostar e beija)
Alço voo.
Não mais aqui.
Estou nela.
Ela em mim.
Agora, aos outros olhos,
cai o pano.
º
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Busquei no teu beijo o silêncio de mim.
- Linda, o conto não sai, sei que você não está puta por eu te ligar cinco da matina, mas era a única pessoa, o lance tem importância, eu só me vejo, tipos, resgatado da vida me sabendo escritor. Escrevi um texto sobre nossa trepada, foi linda, claro, amor e foda, beleza, mas deixou de ser, sem querer magoar, adoro sua boceta, apenas uma trepada. Bateram palmas, a revistinha undergronund publicou com festinha na casa do velho beat, pão duro do caralho, mas ele bem me disse, emocionado: - meu pau subiu !!!, ele encanou que depois do câncer de próstata tinha ficada impotente, ou seja, assim, escrevendo eu realizei um milagre, fraudulento, ok beibe, mas esses são os melhores, é contigo mesmo, até brinco de bancar teu ateísmo, se você me disser que eu vou conseguir escrever o conto, me disser isso como uma casa de vidro com muitas plantas e fantasmas, ou seja, por favor, não quero desligar o telefone na sua cara, amor, então afaste de mim esse "ah, todos nós passamos por bloqueios". Bloqueio é coisa de aventureiro, não de um cara que é, e eu preciso ser, vamos, me diga algo. Sabe o que tinha no meu horóscopo hoje ? Decorei uma frase, "acontecimento desagradável que se transforma em lucro", lance é, desculpe falar tanto, não sei se tudo que aconteceu nessa noite foi agradável, desagradável, só sei que tem um monte de contos inseridos aqui, e eu preciso drenar, tirar os espinhos, estou em um quarto luxuoso de motel, absolutamente só, chapado de tudo, e tentei me matar na hidromassagem por afogamento infaminhazinha. Não, linda, você sabe que eu não venho só para um motel, mas talvez mude isso, passe a vir, programão, se render algo e gracias a la vida. E não adiantava dizer que a próstata não tem nada a ver com isso, que a dor maior é o câncer do vácuo por dentro, vai se espalhando, quem ? quem ? quem ? calma, uma puta. Tava afins de puta.
º
º
E certas coisas eu decido sem ter razão, como ir até o Blue Love a pé, bons quilômetros pela frente, noite adentro, óculos esculos ( aquele de lentes vermelhas, me dá coragem, o dito), passo, passo, a bota no chão era uma coisa batalhenta, herói mesmo, ciente de que apenas ia a pé atrás de putas, tequila prata batizada, uma banda som ao vivo de aposentados, a não ser que tivesse mudado tudo lá. Um clínica de acumpultura, um templo budista danoninho, mas as putas são fortes e são as únicas mulheres que me assustam, fora minha mãe com porpeta e acho que a síncope deliciosa, amor de foda, quando descobri a temperatura guiness da sua xota. Isso aí é uma fonte não poluente de energia, ainda te enfio um fios.
O Blue escurão lá dentro. Algo como quando eu me sentia guilty por tudo, perder o cabaço na moita de uma escola de freiras, você sabe. Até crisma fui. Sanctus, sério, tenho anjo mas ele não gosta que eu não tenha planos, ele sabe que não consegue me proteger do tamanho tonelada das merdas que acabam acontecendo. Minha vida sem galho deveria ser água tônica antes de assistir uma fita da Globo Filmes, peitinho de Camila Pitanga, me emocionar de verdade com o parkinson do Paulo José e não temer possíveis e esquecidas cobranças judiciais. Que elas existem, existem, paixão. Tua voz acordando é um tesão, mas já explico, por enquanto apenas ouça, volume, o gemido do pornozão que rola ainda na tv. Eu, eu não sou culpado. Não. Hoje é fim de semana e o Blue vai estar aberto em cinco minutos, e a bota templária, o punk amásio do Caio Fernando Abreu, fui entrando. Porta aberta, uma cortina de plástico cheia de histórias marcadas no opaco tristonho ( Não cante Edith Piaf !), dois garçons lá dentro. Eu sei ser educado e voz mansa. Resultado: sem colocar na conta, as tequilas à meia luz, batizadas, mas porra, ainda tem gente legal nesse mundo, quando estamos em desordem, lembra daquilo que inventamos com nossas coxas ? ( Não fale de música atonal !). E aí, amigo, as minas chegam que horas ? Duas horas de espera, isso aí, se quiser uma “garota de programa”. Nem numas de paixão, amor Werther, esperei tanto, mas eu ia esperar a puta, a primeira, e seria ela, pois assim eu decidi na hora e óculos vermelhos. E claro que ela não era bonita, e claro que nenhuma seria, nunca mais dando sopa pra vida, eu queria uma professora muda, entende ? Entrou, bocejou e sentou na última banqueta, me olhou e cuspiu por dentro, tipos dentro dos olhos baixos na quase luz.
Coragem é uma questão de planejamento. Nunca entendi mapas de tempo e espaço, claro que bate uma culpazinha, mas estava ali por essa entre outras coisas. Fui até ela. Morena, blazer negro, coxas muito grossas, peitos muito pequenos.
Quero pó. É chegada ?
Conheço um motorista.
Pego pra mim e pra você.
Foda-se, te passo o número e você se vira - sacando o celular da bolsa couro mercado alternativo.
Mas quero cheirar, que você cheire e ter um programa com você. 150 ?
200.
Você é cruel. Bom isso. 200.
Vou ligar, espera aí. Ah, 200 por 2 horas.
3 horas.
Ah tá vai.
E meu amor, lá estávamos no carro do taxista de cabelos pintados curtos de branco e as correntes muitas correntes e um bom humor calmante combinando com a fm pop. Nos deixou aqui, o melhor quarto do motel e esse pedaço tem cerveja uma mesa o pó o vidro e ela, ela, me mostra seu cartão de seguro saúde, algo como sem dizer mas sendo
Meu nome é mesmo Cris. Confiei em você. Prepara outra pra mim, fina.
E sabe quando, tesão meu, a gente precisa de barulho? Eu liguei o canal sacanation express ( pau morto ) e ela o radinho de bancada ( rápida dançadinha trágica). Tiramos apenas os sapatos.
E ela se chama mesmo Cris ou tinha roubado uma carteira Unimed de alguma esquina em bolsa afoita e isso me deu quase que a obrigação de mentir tudo sobre mim. Falante. E eu amei Cris. Ela sabia ouvir. Ouvia agora me olhando. Olhando mesmo. Quem era eu ? Era novamente sem planejamento. Então foi saido assim: Uma espécie de religioso que andava pelas grandes metrópoles tentando fazer com que as pessoas pudessem voltar a acreditar no divino em si mesmas, disse que tinha alguns poderes místicos e para não parecer completamente ridículo ( a mim mesmo ) peguei em seu pulso em três pontos, fechei os olhos e mandei a cartada:
Você está bem de saúde. Mas está com infecção urinária grave ( Ridículo !!!).
Tá ardendo mesmo. E estou mijando muito.
Puta com infecção de urina. Blefe de grande chance.
Isso mesmo.
Você viu isso no meu pulso ?
Coisas que meu mestre me ensinou. Oito anos morei na chácara dele em Minas. O pai foi mestre de meu pai.
Porra.
E pá pó.
Falante como você sabe, mas modulando a chatice com um segundo eu liliputiano em meu ombro, Calma Lá, Chapa.
Não, ela não se apaixounou por mim.
Apenas contou toda história de Cris.
E dei conselhos.
Quem sabe para uma Cris que se chamasse Tereza, Anna O.
Cris, agora vamos nos deitar, juntos.
Posso te falar uma coisa ? Não gosto que toquem em mim quando estou cheirada. Pra você sei que posso.
E vou pagar assim mesmo ?
Sim. 200.
Entendo completamente.
Mas até amanhecer. E mais o táxi.
Trocamos e-mails, telefones, cantei Vapor Barato enquanto estávamos deitados na cama. Ela pegou de outono leve leve a minha mão. E foi isso.
Tentei bater umas punhetas olhando o filme. Ela não se incomodou. Via meu fracasso no espelho do teto e isso era a vida, a vida em geral, e como as coisas funcionavam.
Ei.
Diga, Cris.
Vou embora. Chamar o cara. Só não cheire mais depois que eu for. É estranho você sozinho aqui. Kurt Cobain e essas coisas.
Fico legal.
Foi legal.
Claro que foi.
Te ligo.
Claro. Claro.
º
O sol ficou forte. Fui vendo isso acontecer pelo janelão do jardim de inverno.
Deitei peladaço, amor, no divã ar livre, frio perfeito, e cantei aquele tal de Não Sei Fede Teen Spirit, só o que eu lembrava, em um inglês inventado, na cadência berrei :
- Esse lugar é lindo !!! I'm not guilty !!! - Tv gemendo, música eletrônica matutina.
Uma árvore dançava ali em cima, folha por folha, cada uma, atenção.
- Esse lugar não é culpado !
E daí pensei em você.
Em outro estado, quase outro país, eu numa jaula de autismo feliz e você de bondes aereos.
...
Você é doido.
Vamos gozar juntos ?
Vou tentar, amor.
Você é lindo.
Com sua bondade de coração, me dê o sujo do sujo na orelha.
Pode deixar comigo. Enfia a mão inteira na minha buceta. J'adore.
º
Coragem é uma questão de planejamento. Nunca entendi mapas de tempo e espaço, claro que bate uma culpazinha, mas estava ali por essa entre outras coisas. Fui até ela. Morena, blazer negro, coxas muito grossas, peitos muito pequenos.
Quero pó. É chegada ?
Conheço um motorista.
Pego pra mim e pra você.
Foda-se, te passo o número e você se vira - sacando o celular da bolsa couro mercado alternativo.
Mas quero cheirar, que você cheire e ter um programa com você. 150 ?
200.
Você é cruel. Bom isso. 200.
Vou ligar, espera aí. Ah, 200 por 2 horas.
3 horas.
Ah tá vai.
E meu amor, lá estávamos no carro do taxista de cabelos pintados curtos de branco e as correntes muitas correntes e um bom humor calmante combinando com a fm pop. Nos deixou aqui, o melhor quarto do motel e esse pedaço tem cerveja uma mesa o pó o vidro e ela, ela, me mostra seu cartão de seguro saúde, algo como sem dizer mas sendo
Meu nome é mesmo Cris. Confiei em você. Prepara outra pra mim, fina.
E sabe quando, tesão meu, a gente precisa de barulho? Eu liguei o canal sacanation express ( pau morto ) e ela o radinho de bancada ( rápida dançadinha trágica). Tiramos apenas os sapatos.
E ela se chama mesmo Cris ou tinha roubado uma carteira Unimed de alguma esquina em bolsa afoita e isso me deu quase que a obrigação de mentir tudo sobre mim. Falante. E eu amei Cris. Ela sabia ouvir. Ouvia agora me olhando. Olhando mesmo. Quem era eu ? Era novamente sem planejamento. Então foi saido assim: Uma espécie de religioso que andava pelas grandes metrópoles tentando fazer com que as pessoas pudessem voltar a acreditar no divino em si mesmas, disse que tinha alguns poderes místicos e para não parecer completamente ridículo ( a mim mesmo ) peguei em seu pulso em três pontos, fechei os olhos e mandei a cartada:
Você está bem de saúde. Mas está com infecção urinária grave ( Ridículo !!!).
Tá ardendo mesmo. E estou mijando muito.
Puta com infecção de urina. Blefe de grande chance.
Isso mesmo.
Você viu isso no meu pulso ?
Coisas que meu mestre me ensinou. Oito anos morei na chácara dele em Minas. O pai foi mestre de meu pai.
Porra.
E pá pó.
Falante como você sabe, mas modulando a chatice com um segundo eu liliputiano em meu ombro, Calma Lá, Chapa.
Não, ela não se apaixounou por mim.
Apenas contou toda história de Cris.
E dei conselhos.
Quem sabe para uma Cris que se chamasse Tereza, Anna O.
Cris, agora vamos nos deitar, juntos.
Posso te falar uma coisa ? Não gosto que toquem em mim quando estou cheirada. Pra você sei que posso.
E vou pagar assim mesmo ?
Sim. 200.
Entendo completamente.
Mas até amanhecer. E mais o táxi.
Trocamos e-mails, telefones, cantei Vapor Barato enquanto estávamos deitados na cama. Ela pegou de outono leve leve a minha mão. E foi isso.
Tentei bater umas punhetas olhando o filme. Ela não se incomodou. Via meu fracasso no espelho do teto e isso era a vida, a vida em geral, e como as coisas funcionavam.
Ei.
Diga, Cris.
Vou embora. Chamar o cara. Só não cheire mais depois que eu for. É estranho você sozinho aqui. Kurt Cobain e essas coisas.
Fico legal.
Foi legal.
Claro que foi.
Te ligo.
Claro. Claro.
º
O sol ficou forte. Fui vendo isso acontecer pelo janelão do jardim de inverno.
Deitei peladaço, amor, no divã ar livre, frio perfeito, e cantei aquele tal de Não Sei Fede Teen Spirit, só o que eu lembrava, em um inglês inventado, na cadência berrei :
- Esse lugar é lindo !!! I'm not guilty !!! - Tv gemendo, música eletrônica matutina.
Uma árvore dançava ali em cima, folha por folha, cada uma, atenção.
- Esse lugar não é culpado !
E daí pensei em você.
Em outro estado, quase outro país, eu numa jaula de autismo feliz e você de bondes aereos.
...
Você é doido.
Vamos gozar juntos ?
Vou tentar, amor.
Você é lindo.
Com sua bondade de coração, me dê o sujo do sujo na orelha.
Pode deixar comigo. Enfia a mão inteira na minha buceta. J'adore.
º
domingo, 14 de março de 2010
Movimentos Rápidos dos Olhos.
Nada que desse sinal. Na noite anterior fizemos o de sempre. Ela apenas se demorou mais a levantar, ou eu que muito cedo. Confundi tédio com angústia. Que seja, de uma forma ou de outra sempre algo acontece. Um detalhe. Peguei a câmera na mochila e a filmei no sono. Quando mexia os olhos de maneira rápida, era sonho. A saliva espessa tinha algo de homicídio.
Eu ainda não tinha a técnica. Deixei de perceber quando começou a se virar de um lado a outro na cama e fazer sonhos. Continuei filmando. E sem sinal, despertou já olhando para a lente. Não desliguei, ainda havia inocência, ou mesmo a preguiça. Esses critérios do tédio e da angústia.
- O que você está fazendo? - se cobrindo, os seios chupados horas antes, dando jeito súbito no cabelo desalinhado aos puxões.
Algumas respostas, alguns textos, algumas letras surgem de maneira espontânea, mas não, mas nunca, livres. Existe uma definição de seu futuro nessas falas que se impõem. Ocorre um pause que redefine. E ao se dar play novamente, tudo está mudado, ou simplesmente a virada do ato, o assumir do que sempre esteve ali. Em termos ideais, a reminiscência não tem porra alguma a ver com a rememoração.
O fato é que frase dita, virada de surpresa para ambos em frase já feita, levei arranhão no rosto, e as poucas peças de roupa, livros, o que deixei naqueles meses, atolados raivosamente na mochila. Continuei filmando. Ela me olhava com ódio enquanto me chamava o táxi. Teria sido atriz. É assim ao se acordar. Mas a frase apenas definiu a cena como aquele ainda nesse nunca mais.
Condensação: Excesso de sentido insuportável em poucas palavras.
Ela despertou e me viu filmando. Minhas costas na parede gelada, tonificante. Os poros sabem antes.
- O que você está fazendo? - se cobrindo, escondendo o mamilo que endureceu.
( Poderia ter sido outro rumo, se eu escolhesse as palavras ? Sim, e esse é o delicioso ridículo das situações em vigília. Mas o que me ocorreu na língua já em corda foi:)
- A única coisa que me enciuma é sua irremediável solidão.
º
O estatuto do ciúmes é a regência do incontrolável. No lugar onde a estratégia não funciona. Na curva da alma, na assinatura ancestral dentro do erótico. Os maiores gozos não proporcionamos a ninguém. Nem nos proporcionamos. Nada jorra mais que a pornografia autista.
O sono. Por incomparável excelência.
º
1) Deve-se sempre perguntar se troca o dia pela noite. Dependendo, uso as lentes normais ou noturnas. A anfetamina me coloca no ritmo da pessoa.
2) Não há motivo para escolher o sexo, a idade, a crença, o papo. O que antecede, o barzinho, a conversa cabeça, charmosa, as piadas sem graça, a sauna, o sanduíche para a criança que dorme na escada, a troca de olhares na boate, a pedra de crack para a adolescente que treme retorcida na pilastra, enfim: tudo isso se iguala. Estão atuando. Você também. Semblantes.
3) Nunca filme um casal. Mesmo dormindo, um sabe que o outro está lá.
4) Intercale as posições, as feições, os ângulos patéticos com cenas de beleza daquele corpo, a respiração, os pequenos gemidos, close nos cílios.
5) Não intervenha. Nem no corpo nem nas cobertas. Não mude a temperatura do quarto. Não lamba nem de leve o rabo. A tentação é grande. Existe o desejo, existe o sadismo. Controle-se.
6) Atenção para os Movimentos Rápidos dos Olhos. Filme-os. Principalmente os que você sabe que antecedem o despertar. É o que será lembrado quando você perguntar no café da manhã, com gentileza, com demonstração do real interesse, sorriso bondoso: "Você sonhou? Me conta?". Claro que sempre se perde grande parte. Porém é algo como, digamos, os "Extras".
7) A única coisa que jorra são as irremediáveis solidões.
º
Sento-me na poltrona da sala.
Disponho minhas "vítimas" pelos sofás. Algumas preferem ficar no chão. Outras dançam nuas, carnavais esquizóides. Duas ou três sobre os livros na estante. O senhor de boa aparência anda de um lado para o outro, sugando um Havana. Algemo os viciados.
Sento-me dentro de minha orelha:
- O que você ganha com isso?
- Tenho certeza que ele bate punheta nos vendo assim, desprotegidos.
- Calma. Não vejo mal algum. Mas bem que poderia avisar antes.
- Como assim não vê mal algum ? Isso chama invasão de privacidade !
- Não tem um filme, um filminho, com aquela gostosa loira, assim, bem assim com esse nome ?
- O fato é que se ao menos nos ficássemos sabendo, poderíamos denunciar esse cidadão.
- Ele deve colocar em algum site. Escrever em blog sobre isso. Todo pervertido quer compartilhar.
- O que mais me machuca é que eu estava mesmo pensando ter encontrado uma pessoa especial naquela noite. Chovia muito. Ele entrou. Pediu o mesmo drinque e me pagou outro. Sorriu. De alguma forma era sincero.
- Tem isso. Todo mundo quer algo que não conta. Nem sabe.
- Puta que o pariu. Vão defender o monstro agora ? Piraram ?
- E se ele nos mostrasse depois? Se revelasse ?
- Eu o expulsaria da minha casa. Eu o arranharia bem nessa cara de escárnio.
- Sim. Ele está rindo. Vejam. Ele está gargalhando.
º
8) Existe uma dor em meio ao gosto bom do vício. Você nunca poderá filmar a si próprio. Pegará no sono sabendo que a câmera está lá. Isso interfere. Isso tira toda a graça. Isso lhe afasta de você mesmo.
º
- A única coisa que seca é o remédio torto para a solidão...
- Falou comigo ? Não entendi. Repete ?
- Sim, falei. E claro que repito. Você é linda demais para estar com esses olhos assim tão úmidos. Vou pedir um drinque. Me acompanha ?
- Obrigada, aceito. Só não vou beber demais, mesmo que esteja pra isso. Ou acabo dormindo aqui mesmo no balcão.
- Relaxe. Não vou deixar isso acontecer.
º
domingo, 28 de fevereiro de 2010
Anjo Futebol Clube.
Na primeira vez eu ainda nem tinha porra. Mas antes disso tinha o jogo, sempre tem. Um futebol de rua com molecada gritando ora "gol", e "parou, vem o carro!". E vinha o carro e passava por nós em corredor de shorts enfileirados, sem saber que havia outra regra. A dor.
E antes do jogo vem sempre a- ei, hum- "célula mínima da sociedade".
Eram dois irmãos, filhos-donos de um empório natureba que ficava bem ali diante,
da rua com campo em spray branco beijo no asfalto.
Os pais deles meditavam em tantra na casinha do fundo, quintal de hortinha-caseira-cada-um-se-liga-na-Natureza. Nunca quando no horário de jogarmos futebol.
Bem assim: a bola batia em você e viesse no meio da cara, viesse na boca do estômago, nada de expressar dor. Nenhuma careta. Nenhum ai que roxo fosse ademais.
O irmão mais jovem, anjo que assim era, sempre caia a chão gemendo, mesmo que a bola apenas relasse em seu fio de cabelo loirinho. O mais menino de nós.
E antes de toda graça, a regra: demonstrar dor era dar o rabo cinco minutos para cada jogador de ambos times. Cada vez que mostrasse dor. Ou fraqueza. ! Lá vem o carro ! Ai, essa doeu !
Dar a bundinha no templo de incensos e Krishinas, atravessar a horta de piroquinha dura.
Aqueles jogos moldaram um time de homens que aprenderam a não sofrer.
Reza uma lenda compartilhada. Eu era magro.
Hoje, pois sempre tem, ainda encontro no aqui e por ali uns dos times.
Nos reconhecemos pelo rosto duro, o aperto de mão de quem trabalha, sustenta família e se for do grau, lê Isaac Babel. Umas cervejas sempre, cigarros, charutos, esteja com câncer ou no horário da carteira assinada.
Antes.
O mais menino ria quando chorava.
Ele não queria apenas sofrer de bolada na fuça; vinha em divididas de bola que sabia se ralar todo na queda sem camisa, pele sugando cada costela da vontade sangue e ansiedade antecipada.
Antes disso, Caim e Abel, mas não vou nessa lítera: falo de molecada suja no asfalto e gargalhadas depois do cuspe.
Quem propôs as regras foi o irmão mais velho.
- Trepo meu moleque toda noite. Ele é bom no que faz.
O Campeão dos Campeões. Ai. Doeu. Cinco.Dez. Quinze pra cada pivete. Tinha mesmo muito de anjo.
Eu que não, redondinha na orelha, (segura firme cara, olha o carro), "Olha o carro!".
- Tudo bem, Magrão ? Doeu, hein ?
- Nada. Tô inteiro, passou o monza, não dou moleza. Simbora, a bola.
E pais que nunca estavam ali.
Mas quer saber? Mesmo que estivessem.
Tinham que vender incensos.
E o templo com os deuses de tantos braços
velas
colchonetes vermelhos,
virava o lugar de foder o rabinho do menino irmão, todo sorrisos e lascas de pele arranhadas.
- Magrão, deixo você ficar mais cinco minutinhos...vai...enfia.
- Moleque, temos uma ordem aqui, deu meu tempo, vem o Negro e depois o Pança-Boi.
- Com você é mais bom...
Hare Rama Rama Hare.
Osho me olhando da parede, aquela cara de escroto.
- Então chupa. Dois minutos.
- Adoro, Magrão.
E ele chupava. Menino loiro, faltavam asas.
Eu nem tinha ainda porra.
E era dos mais velhos.
Mas tremia.
Porém
As coxas, os olhos,
tremiam.
Lindo menino loiro deus nessa hora, via nos joelhos da altura, rodavam orientes.
Hoje ainda, na cerveja, mesmo com câncer ou atraso pro banco:
- Lembra que a gente e o menino...
- Lembro. Como está a família, Magrão ?
Lá antes, quando entrávamos na casa
e esperávamos na cozinha com Nescau, açúcar mascavo, a nossa vez,
e não importavam mais os carros que passavam. As velas eram silenciosas.
- Quero ser só sua namorada, Magrão. Acaba com esse jogo chato dos outros em mim.
- A vida não é como a gente quer, pivete.
- Não ?
- Não. - e saindo do templo- Vem Negro, tua vez.
- Um beijo antes, Magrão, rapidinho.
- Corre, Negro ! Não quer foder ?!
Ainda hoje:
- Nunca mais vi os irmãos, Pança-Boi.
- Não me chama assim.
- Nunca mais vi os irmãos, Dr. Alexandre.
- Tá reclamando, Magrão ? Doeu ? Vai chorar ?
- Que porra? Me desconhece ?
- Mais uma gelada aqui, chefia !
- A mais gelada !
- Essa cidade tá virando inferno, cara.
- Tanto carro na rua que não mais.
-Não mais, Magrão. Disse tudo.
º
sábado, 30 de janeiro de 2010
O Descanso nos Poros.
Eu havia sido expulso da Universidade. Em uma aula, cansei. Foi isso. Cansei. Deu, porra. Você entra na sala, olha para os alunos, vem com a cabeça diretamente das intrigas do departamento, olha para as alunas que já comeu, as que te odeiam, as que ainda te amam, as que deram e receberam a troca boceta-boa nota e as paredes estão mais próximas, elas se grudam em você, o título da aula sem graça aparece na tela, você diz como sempre diz "o próximo", o slide muda, mas parece que não muda nunca, alguns dormem, mesmo você ainda está um pouco dormindo, mas não o bastante para estar descansado e seguir adiante. Um dos alunos da frente olha com admiração para você. E na camiseta dele, uma bolota amarela, com olhos e um sorriso, a frase "BE HAPPY" abaixo. Ele pode ter sido aquele que no mês passado pediu uma bolsa de mestrado. Ou a tese dele já está na sua sala. Intocada. Um cansaço assim talvez não comece de repente. Mas se faz. Tem seu momento. E logo o tema da aula se torna claro. A imbecilidade da vida acadêmica. Você cita nomes e vícios de outros docentes, informa cientificamente qual a aluna da sala tem o melhor boquete, enfim, esse tipo de coisa que liga cansaço com uma crescente sensação de liberdade. E "BE HAPPY" está anotando tudo.
Foi assim que guardei o apontador laser no bolso da calça, desci do tablado e quebrei seu nariz com um soco reto, usando os dois punhos. Antes pedi que ele se levantasse da cadeira. Aluno e mestre no mesmo nível, um professor não deve ter estrelismos pelo seu curriculum.
Pelas duas portas da sala, seguranças com rádios. O da esquerda chegou antes até mim. A Universidade da Vida ensina: se o cara é grande, chute o saco. Cansaço dá força. Se dobrou em vômito ao chão. Madeira.. O da direita não conseguiu atravessar a fileira de cadeiras até me alcançar. Tempo o bastante para chegar ao carro e nunca mais colocar os pés ali. O jejum fez cair bem os copos de pinga e o cigarro longamente tragado no boteco.
Durante três dias nenhum contato da universidade, até a chegada do telegrama. Convocação para um exame de sanidade mental e o aviso de uma sindicância interna. Deixei o telegrama sobre a escrivaninha, ao lado do apontador laser. As duas únicas coisas que ainda me ligavam à Universidade. Não me faltou fome para o café da manhã. Só não estava afim de ler o jornal. Corri direito para os classificados e achei "Duas asiáticas lindas que transam entre si e com você.". Foi uma tarde divertida. Enquanto uma cheirava pó, a outra fuçava no meu computador.
- Que dia você nesceu ? Que cidade, benzinhno ? Sabe a hora ?
Disse o que sabia e inventei o resto.
- É aquário com ascendente escorpião. Isso explica o teu jeito.
- O meu jeito está de pau duro. Vem.
- Explica até isso, seu maluco ! Aii.....
Paguei o dobro para que fizessem a faxina do apartamento. Nuas. Dispensaria a Rosilda por quinze dias. Excelente negócio. Rosilda iria perguntar demais sobre se eu estava de férias, se eu não estava bebendo muito, se era bom voltar a fumar. Decidi dispensar Rosilda para sempre.
As japas foram felizes elevador abaixo e eu me tranquei por dentro. Poderia pedir uma pizza brotinho. Poderia um monte de coisas. Bem parecidas entre si. Arrumar as malas ou me matar. Pensar em me inscrever na hidroginástica assim que fosse amanhã. Mas lá estavam o telegrama e o laser. Um em cada mão inchada, latejante.
A decisão não foi difícil. Amassei o telegrama e o joguei pela mesma janela. Pela mesma janela em que segundos depois me apoiei no parapeito descamando ferrugem na camiseta. Liguei o laser e comecei a mirá-lo nas janelas do prédio em frente. Apenas nas janelas com luzes apagadas. Eu queria iluminar detalhes. Eu queria que pensassem que fosse uma arma. Mas peguei apenas objetos. Um trecho de geladeira. Estante com poucos livros. Uma televisão de plasma. E assim por diante. Porém, mesmo com a proximidade entre os edifícios, ainda via tudo de longe. E se alguém estivesse escondido atrás do sofá, se cagando de medo, facção criminosa, dívida de jogo ?
Nada de hidroginástica.
No dia seguinte comprei um binóculo.
º
No início não era vício ainda. Nunca é. Distração apenas. Começa assim.
O ponto vermelho iluminava um diâmetro extremamente pequeno do que eu visava. O binóculo ampliava. A graça estava na exploração. Na dedução partindo de um detalhe. Metodologia científica, afinal. Esperava a noite andando pela cidade. Vendendo livros técnicos e comprando romances, poesia, esse tipo de coisa dos sem tarefa. O pessoal do prédio da frente chegava entre cinco e sete horas da noite. Nesse horário eu tinha que estar à janela. Abriam o portão, alguns poucos cumprimentavam o porteiro, e logo em seguida eu esperava que janela iria se abrir, que luz iria se acender, de que apartamento começaria a vir a música. Eu já sabia quem era o morador. Mas ainda não estava na hora de observá-lo. Só quando a noite caísse. Só com meu ponto laser auxiliado pelo binóculo. A degustação é melhor que a devoração.
Decorava um, no máximo dois moradores a cada entardecer. Os que seriam meus alvos pela noite. Temia apenas que logo soubesse de todos. E que me cansasse deles. E que mesmo sendo os detalhes pontuais potencialmente infinitos, não mais me entusiasmasse.
O fato é que mesmo com o requinte, não me afastava muito do pervertido comum. Captei algumas trepadas. O foco percorria os corpos. Os poros. Os pêlos. Refletia nos suores. Tal como qualquer tarado vulgar, batia minha punheta, o apontador laser mordido entre os dentes salivados, uma mão no binóculo, outra no cacete. Sim, obviamente, por algumas vezes casais e solitários viam o laser. Corriam fechar a janela, acender a luz, xingar no escuro. Desenvolvi a habilidade de uma vez percebido, desligar o foco de imediato.
º
Já era necessidade. Acordava tarde no dia seguinte e escrevia tudo que fora notado no apartamento explorado. Palavras. Frases. Logo alguns sentimentos. De asco, tesão, crítica. Arriscando até uns versinhos satíricos. Quanto tempo gasto e quantas idéias não nascem daí, em observar uma boceta lindamente peluda, ponto por ponto, adormecida, arruivada pelo vermelho sangue da mira ?
E foi naquela tarde que veio a idéia de criar o blog com a fotografia do prédio e as atualizações diárias, juntar os textos esparsos. Isso me empolgou. Me tirou do ritmo do vício. Compartilhar uma Arte. Deixei anoitecer sem escolher nenhuma personagem na chegada da rotininha de merda. E só fui perceber isso da maneira mais interessante possível: ali estava, sobre meus dedos que digitavam as histórias da cabeça para o blog, espancando o teclado, nesses meus dedos já não inchados, um foco de laser. Parei com as duas mãos espalmadas sobre as teclas.
Quem quer que fosse, sabia fazer e tinha bom humor: passou com o foco sobre cada uma das minhas falanges, um ponto só, de dez segundos. Deixando por último o dedo do meio da mão direita. E aí traçou, sem sair do limite, vários riscos de idas e vindas.
Abaixei a tela do notebook e fui até a janela, pegando minhas armas.
Esperava com isso que o foco do outro lado apagasse.
Não.
Rodeou meus mamilos.
Desenhou um colar em meu pescoço.
A pessoa não queria se esconder.
E eu deveria jogar da mesma forma.
Lá vinha o foco, do oitavo andar, apartamento da extremidade esquerda.
Em total escuridão fora o laser.
Era uma mão feminina. Uma bonita mão feminina.
Segui o mesmo roteiro: eram lindos peitos de bicos duros. Me fiz epopéia na exploração deles.
Ela andou pela sala e estava nua. Ela e a sala.
Também me fiz nu.
Para que eu pudesse ver melhor, foi generosa: enfiou seu laser dentro da xoxota depilada, deitada em um solitário sofá. Coxas estradas longas, paisagem.
Tenho certeza que nunca vi nada mais lindo. Não me excitei no pau. Me excitei no sublime.
º
Não sei até que horas nos exploramos. Nos comunicamos.
Fizemos desenhos com movimentos rápidos, um na parede do outro.
Deu para ouvir ela rindo de nossas brincadeiras.
Também me permiti rir alto sem ecoar na lua ausente.
Que fosse uma noite eterna.
Não tínhamos pressa.
Foi apenas o surgimento súbito da careca solar que nos assustou.
O susto é interpretado como uma rápida tomada de decisão ou fuga.
As motos já entregavam revistas e jornais; o caminhão do leite.
Mas, lá embaixo, o asfalto ainda estava livre, perto do que estaria em alguns minutos.
Eu que primeiro apontei o foco para a rua. Bem no meio.
Ela desceu com o seu também.
E ambos os desligamos ao mesmo tempo. Entendidos em decisão.
º
Eu não tinha mais roupa limpa ou passada.
E isso não importava em nada.
Barba, cabelo, bafo.
Olheiras.
O estômago doendo de dias.
Fechei a janela, com isso informando que eu estava descendo.
º
Um em cada calçada.
Um sorrindo para o outro.
Um de jeans, chinelo e camiseta branca rasgada na manga.
Outra com uma capa de chuva sem que houvesse chuva. Descalça. Pés que eu já sabia de cor acho que até em átomos.
Apontei a padaria da esquina.
Ela sorriu.
Andei apressado, peguei uma mesa perto à janela.
Sentei. Quando ela entrou, me levantei.
Um longo silêncio.
Apenas um sorrindo para o outro.
Com tamanha intensidade que afastou o garçom macilento.
Era uma conversa que não poderia começar de onde deveria começar.
["Quando você teve a idéia de me imitar no laser ? Iria usar só em mim ou nos outros apartamentos também ?"]
Enfim, não.
Abandonei meu laser sobre a mesa e segurei sua mão.
Ela relaxou os dedos e seu apontador rolou, caindo no chão. Não se deu ao trabalho de pegar.
Nos levantamos: recebi sua cabeça em meu ombro.
E saímos dali.
Nem um pouco cansados.
Nem um pouco.
º
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Ensaios de Comunicação Erótica.
- Mas você não gozou.
( a fazer essa questão mais para si, sente-se patético e já sentia antes, mas era como um crime premeditado na saliva, auto carnificina que reduz o tamanho do pau de um cara lá onde fica a alma do pau, o herói lambuzado, suado, pendente como se tomasse um trago merecido na taberna após a batalha, se transforma em um apêndice de banha exibido na vidraçaria da padaria, lá pelas cinco horas da tarde, a gordurinha suspeita que vai ser usada no lanche do cliente antipático).
- Mas foi tesão demais.
- Se foi tesão você poderia ter gozado. Demais.
( arqueólogos encontram nesse momento a coroa de espinhos crística. a sede é uma metrópole em crescimento vertiginoso num crânio e pede vinagre, os dentes ficam cheios demais, prédios de escritórios com executivos brincando com bexigas coloridas, mongos arranha céus).
- Não é assim que funciona.
(ei, clint eastwood !!! )
- Eu sei, querida. Bobinha. Eu sei mesmo que esporrei loucamente nos teus peitos. Está aqui pra satisfazer seu gato. Isso aí.
-...
- Vou fumar um cigarro, de boa.
- Mas também não é assim.
- Claro que é, gata.
- Me abraça forte.
E eles se abraçam. E ficam ainda mais suados. Em silêncio. E dormem. Amanhã ela gozará.
º
O médico disse que o stress o deixou com a imunidade baixa. Para tomar todo, extremo cuidado com os germes. Eles sofrem mutação. Cada vez mais perigosos. Ela gosta de coisas que envolvam uma boa quantidade de germes. No rabo, por exemplo, como tirar as fezes germinadas debaixo das unhas ? As corta no curto até quase o sangue. Álcool gel ao lado da cama. Mas e enfiar a língua ? O banheiro fica longe do quarto. Correr escovar os dentes ? Mas se lambe uma bunda no início. Ele a ama. Lamberá. Mas com um comprimido antibiótico sublingual.
- E mesmo ela te fazendo sexo oral. A boca dela contêm GERMES ! Só com camisinha.
- Entendo....entendo, doutor.
Ela gosta do gosto do pau. Nada de morango, chocolate, menta. Nem bourbon.
- Goza na minha boca. Eu não engulo. Fico sentindo o gosto. Espalho na cara. Delícia.
Um antibiótico sublingual pra ela também. Mas e pra tomar ?
- Alô, cara...
- Porra, bicho, essa hora, que merda !
- Problemão. Dá idéia, é amigo ou tá de onda ?
- Conta. Fala. Vou cobrar, viado.
- Isso. Isso. Isso. Não ri. É que isso. E isso, meu. Sacou ?
- Ok, vamos lá. Eu conheço sua mulher...
- Como assim, maluco ? Conhece minha mulher ?!
- É minha prima, seu noiado. De segundo grau, mas prima.
- Pior ! Nunca engoli isso. Puta papo....sei lá, cheio de germe !!!
- Nem ela engole, pelo que você falou. Toda loirinha, toda babadinha de porra, hum....
- Me espera, tô indo aí. Não foge. Hoje te arrebento, gajo.
- Relax. E ouve aí.....
Ele deitado. Deitado é bom para stress. Ela dizendo que não com o dedinho indicador, unhas vermelhas estrelas cadentes.
- Quero te chupar em pé. Olhando pra você. Levanta daí. Quero sentir tua coxa tremer.
- Amor...
- Upa já. Levanta, gostoso.
- Vamos pirar nessa trepada. Arrumei um Ectasy louco, doido, pirado. Europeu. Eu tomo, você toma. Deixa derreter debaixo da língua. Daí chupa.
- Uhú ! Adorei. Só um homem muito tesão pra ter essa idéia !
- Sério ?
- Eu dou prum cara desses pelo tempo da minha vida. Me passa esse troço pra cá.
º
- Você me come e já vai pro computador.
- Já te disse, princesa. Escrever um poema de amor. Nosso amor. Me empolga !
- Que nunca me mostra.
- Nosso amor sempre te mostro.
- Quero ler um desses poemas ! Agora !
- Você nunca gostou de poesia, amore...
- Passei a gostar. Um namorado poeta. Puxa, que honra. Vai, mostra.
- Que clima, saco, assim não. Foi embora a inspiração. Sumiu. Culpa sua.
- Sabe por que nunca gostei de poetas ?
- Hein ?
- Isso da inspiração. "Ai, cadê ? Onde foi ? Um vento outonal levou embora, Oh !". Puta coisa de broxa. Broxa e Bicha. Como chama isso ? Aliteração ? Broxa e Bicha. Taí teu poema.
º
Arqueiro ON.
Clarice ON.
Arqueiro diz: Ela já foi dormir...
Clarice diz: Certeza que não tem problema ?
Arqueiro: Tá até roncando.
Clarice diz: Ai, que saudades do que a gente faz....
Arqueiro diz: Eu também, nossa.....fez as fotos ?
Clarice diz: Fiz. Só suas. Só nossas.
Arqueiro diz: Já estou daquele jeito.
Clarice diz: Quando vamos poder sentir juntos o que apenas fotografamos ?
Arqueiro diz: Eu quero. Mas eu preciso fazer com que ela não encane com meu sumiço. E isso cansa.
Clarice diz: Sei. Mas não se esqueça que espero. E muito. Preciso.
Arqueiro diz: Eu também. Mas vai, agora mostra as fotos...
Clarice: ENVIANDO FOTOS....
Arqueiro diz: Noooooooosssssssaaaaaaaaaaa......Aquela genuína gravura de Dürer ! Perfeita ! E no ângulo que pedi ! Os detalhes, o chiaro/oscuro !
Clarice diz: hihihihihihhiihhiihihihihih....como você me pediu. O guarda do museu achou estranho, mas
Arqueiro diz: Desligar ! Vou ter que desligar. Acho que fiz barulho. Ela acordou !
Clarice diz: Santo, o que ela quer ?
Arqueiro diz: O que mais ? " Tesudo, vem me foder, vem me deixar louca, come meu cu !"
Clarice diz: Descontrolada. Vai. Não quero trazer problemas.
Arqueiro diz: Tenho que ir. Desculpe a vulgaridade. Um abraço. Obrigado. Fui !
Arqueiro PARECE ESTAR OFFLINE
Clarice OCUPADO. Mensagem: "Lendo Balzac".
º
- O teu último conto foi o mais previsível de todos que já li. Essa coisinha de conversa por MSN, ai, ai, que moderno.
- E esse teu quadro na parede? Essa galeria vazia ? Um Modigliani cagado e cuspido, não vai agradar nem anoréticas.
- O que você tem contra mim ?
- Pior que nada. Eu escrevo, você pinta. Tente escrever.
- Você tente pintar.
- Certas coisas só eu posso te oferecer.
- Pense. Estamos nessa há tempos. E certas coisas só eu posso te dar.
- Eu quero agora.
- Na banheiro ?
- Algum lugar mais arriscado ?
- Deixa ver. No mezanino.
- Adoro.
º
Beth, bem mais de quarenta anos. Camila, menos de vinte anos. E eu, lutando contra o calendário. Campari, suco de abacaxi com hortelã e canudinho, cerveja, respectivamente.
- Não sou um homem bonito, mas algumas mulheres dizem que tenho algo, algumas mulheres percebem no olhar, na maneira de andar, a gesticulação, que o cara é bom, isso foi o que ouvi. Sei lá se é verdade. É verdade, Camila ( Camila linda, doçura de pele clara, levemente vesga, calça jeans com a barra em fiapos, boca de sino, um totalmente pretensioso chinelo havaiana, esse piercing no narizinho arrebitado, pedra reluz o fim de tarde) ?
- Camila ?
- Que foi Bethinha ?
- Você não saca também essa coisa nele ? Está até no cheiro. Respira fundo. Não é perfume. É de Homem.
- Sempre respiro fundo. Yoga. Sabe que tem respiração para poupar e gastar energia ?
- Sei, Camila. Sei um monte de coisas. Se um dia eu pudesse te ensinar...
- Além de tudo, culto.
- Não, Beth ! O culto é um chato. O que eu sei é pra fazer minha vida e a de quem amo mais feliz. Claro, se eu for amado. Ou as páginas dos livros se tornam lugares onde depositar tristemente a solidão. Você se sente só, Camila ?
- Ah, tem a galera a facul. A gente sai, se diverte, sempre tem alguma coisa pintando.
- Camila, de mulher pra mulher. "Alguma coisa pintando" não satisfaz a gente. Precisamos de mais. Ou ficamos deslizando na superfície do gelo até ser muito tarde. Descongela com o tempo, dia a dia, e afundamos de hora para outra. Não é nada agradável.
- Odeio o frio. Meu negócio é calor. Areia, mar, ondas. Você é meio pálido, cara.
- Estou tentando sair de um momento difícil, Camila. Mas se você me chamar na praia eu vou.
- Tadinho. Precisa de colo, né ? - e dá-lhe Beth acender mais um de incontáveis cigarros.
- Receber colo é dar colo.
- Lindo ! Lindo, viu Camila ?
- Dani ! - mesmo gritando, Camila tinhas asas de fadinha no lugar de cordas vocais - Dani !! Aqui, olha, nessa mesa....tô indo aí......Beth, olha que gato....um tesão.....olha o tamanho desse homem. Que boca perfeita ! Vejo vocês amanhã. Beijo, Beijo.
- Camila, tem cara de imbecil....volta aqui....
- Deixa, Beth.
- Que porra de menina burra.
- Eu que ainda estou meio fora de batalha.
- Que nada. Olha a auto estima !
-...
- Querido, quer vir comigo? Na minha casa? Os meninos viajaram.
- Não. Obrigado.
- Não é pena. É tesão. Sempre tive. E afinal hoje é hoje.
- Mesmo assim.
- Eu entendo. Triste. Mas entendo. Bom, o que nos resta ? Feliz Aniversário pra você.
- Pra você também, querida. Feliz Aniversário. Muitos anos de vida e tal. Me dá um cigarro ?
º
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