Entra, senta, quer ouvir um som, tomar um café, ainda é cedo pra uma cerveja, beber agora te lembra a culpa de estar aqui ?
Seguro você pelas pernas, quase cai, grita mesmo, levanto e te colo na parede, só entende o que acontece quando com a língua puxo de lado a calcinha e vou lambendo de boca inteira, rosto: com um dedo, você me ajuda.
Cheiro e gosto de quem se preparou pra isso. Quero molhar até tirar restos de sabonete e intimidades de farmácia. Agarra meu cabelo onde nascem e minha nuca, tua unha, sangra. Xingo tua mãe, teu pai, teu marido e te jogo no sofá, levanto tua bunda e meto. Você goza em alguns segundos e me diz que pare, que quer conversar, que talvez posso descartar a imagem das responsabilidades, caso bata um papo. Bato sim, bato uma, três, várias vezes e você goza de novo quando puxo tua cabeleira.
Saio correndo e esporro pela janela do apartamento. Lá embaixo, o ponto de táxi, a padaria, o sebo de livros.
Pego duas cervejas. Bebo a minha e depois bebo a sua, antes que esquente: você abraça os joelhos e finge dormir.
- Não é cedo para você estar bebendo ? Eu deveria mesmo estar aqui? E o tempo para pensar em todos prós e contras ?
- Você está sentada em cima do maço de cigarros. Passa aqui, por favor.
- Toma. Pega uma bem gelada pra mim. Tem uísque ?
No banho, como você por trás. Lambe o azulejo, cerâmica insuflada. Temperatura de arrepio e descamação da pele.
°
Telefona e parece que no escritório as pessoas acreditam na história. Eu não tenho para quem telefonar. Faço a barba e você corre pra me abraçar.
- Coloca um som bem legal ? Agitado. Quero dançar! Como estou feliz, amor...
°
O dia está ensolarado e nós de mãos dadas, você balança nossos braços e conta mil coisas sobre umas conquistas, um curso de alemão, e a tese de doutorado. E como sempre gostou de ler minhas coisas.
- O que é sempre ?
- Seu chato ! Me compra um pão de queijo!
Rimos juntos e a criançada chuta bola no muro do cemitério municipal. Parece que nada pode andar para trás, imagino seus pés escorregando no suor da sandália e tenho outra ereção. Mas ali estão seus pés e eu não preciso imaginar porra alguma. Me ajoelho na calçada e beijo cada um dos seus dedos, acaricio as panturrilhas e elas são caules sagrados. A criançada ri. Eu rolo no chão e finjo uma convulsão. Você manda beijos para todos que passam. Ônibus buzina, a tia da banca de jornal bate palmas. E mais que tudo, preciso caçar um pão de queijo em algum lugar que te mereça.
°
Vamos viajar. Vamos comprar um gato. Vamos nadar no mar.
Vamos correr no parque. Vamos cair com tudo no gramado. Vamos rolar ladeira.
Te faço barriga, te faço um livro novo.
Me faz um sorriso teu.
E me diz onde compramos parênteses para colocar no tempo.
Dentro da lanchonete está escuro. Você engole coca-cola. Eu engulo a seco.
°
- Você está legal, amoreco ?
- Vamos voltar pro apartamento.
- Tarado !
- Linda...desde a lanchonete. Já demos volta no quarteirão de cima, vimos as vitrines e comprei essa rosa...
- Maravilhosa.
- Tem um cara seguindo a gente.
- Puta que o pariu. Não brinca.
Você começa a olhar para trás. Belisco seu braço.
- Faz o que eu mandar.
°
O andar está escuro. Apenas a luz vermelha do interruptor. O elevador vem contando os número na parede. E chega. O tipo: alto, blusão imitando couro e manca um pouco da perna direita. Antes que ele possa acender a luz, é nela que eu pulo, colocando meu peso contra o joelho. Um grito e caímos no chão. O elevador desce e tudo escurece. Alguém ouviu o merda berrando. Segura minha garganta e além dos dedos, tem algo frio. Uma lâmina. Chuto com força o joelho, estamos escorregando no piso liso. Ele sente a dor, mas não desiste de aproximar o canivete da minha cara. O motor de elevador treme, zumbe. Preciso soltar um dos braços pra fazer apenas uma coisa e tem que ser rápido. Ele corta uma tira da minha orelha antes que eu arrebente sua cabeça contra a porta de incêndio. Após três pancadas, ele pára de respirar. O elevador ficou parado três andares abaixo.
Toco a campainha e você abre imediatamente. Ao contrário do que eu esperava, você não grita. Me ajuda a carregar o corpo.
Limpa o sangue e os ossos lá fora, enquanto eu ajeito o sujeito no banheiro da empregada.
°
- Meu marido sabe.
- Ele desconfia. Só isso. O que ele tinha pra saber morreu com esse cara.
- Não posso voltar. Ele me mata...
- Você deve voltar. E chegar sorrindo. E trepar com ele.
Parece que ela não pensou duas vezes antes de aceitar a idéia.
- Vou. Mas e você. E o corpo desse filho-da-puta ?
- Isso é comigo.
- Jura ?
- Claro.
- Ai, meu Deus.
- Vai amor, eu te ligo.
- Você vai se livrar, né ?
- Tenho alguns amigos. Espero até a noite. De madrugada não tem porteito. Tiramos ele daqui e levamos pro lixão. Fim de papo.
- É bom eu ir rápido, cê não acha ?
- Acho. Vai.
- Te amo até o fim do mundo.
- Eu sei.
- Vamos nos ver de novo ?
- Com certeza.
°
Dou meia hora depois que ela saiu. Estou com o celular do morto ao meu lado. Na casa dela, eu sei bem, tem identificador de chamadas. Mato-grossenses cornos e com grana.
A carteira de identidade: Macavú- Pernambuco.
Isso me dá um sotaque.
Poupo palavras para dizer que ela está limpa. Teve um almoço de negócios com o pessoal de um escritório, na praça de alimentação do shooping.
"O som tá alto, Casimiro..."
"Tô na rua."
"Tem certeza de tudo ?"
"Segui até o aereporto..."
"Obrigado, Casimiro."
"De nada, é meu serviço."
"Você está estranho...não sente saudades de mim?"
Fodeu.
Lascou.
"Sinto...claro, sinto demais sua falta..."
"Você entende que não era ciúmes dela, não entende? É honra. Honra, meu cavalo. Você ainda é meu cavalo gostoso, Casimiro?"
" Sempre."
"Volta. Vamos passar o fim de semana na fazenda? Quero você me fodendo."
"Quero comer mesmo esse rabo."
"Assim que se fala...cavalo..."
"Me espera na fazenda já? Me deu tesão arretado essa história toda."
"Safado. Puto. Vou dispensar o pessoal do casarão."
A passagem, a passagem....aqui.
"Chego de noite."
"Te espero de banho tomado, vem que teu urso tá querendo."
°
Enquanto remexia nas roupas de Casimiro, encontrei tudo que precisava. Eu já tinha visitado aquela fazenda duas vezes. Foi na carteira que eu encontrei uma foto.
Uma foto dela.
E uma carta escrita em folha de caderno. Eu conhecia bem aquela letra.
E aquele jeito bem puta de escrever.
Ela dizia que o pau de Casimiro era o maior que já havia chupado.
Que ela adorava quando ele esporrava na cara, nas tetas.
Que fora o corno, só tinha ele.
°
Minha cabeça latejava enquanto eu arrumava uma mala pequena. Poucas coisas. Eu não tinha motivo pra demorar lá no Mato Grosso.
Descobri que sou rápido para acertar algumas coisas.
Pedi pra aeromoça um comprimido pra dor e uma cerveja.
Dormi sorrindo, com uma sensação gostosa esquentando o peito.
Algo como um sentido real pra vida.
Ou a alegria do desprezo.
°
Seguro você pelas pernas, quase cai, grita mesmo, levanto e te colo na parede, só entende o que acontece quando com a língua puxo de lado a calcinha e vou lambendo de boca inteira, rosto: com um dedo, você me ajuda.
Cheiro e gosto de quem se preparou pra isso. Quero molhar até tirar restos de sabonete e intimidades de farmácia. Agarra meu cabelo onde nascem e minha nuca, tua unha, sangra. Xingo tua mãe, teu pai, teu marido e te jogo no sofá, levanto tua bunda e meto. Você goza em alguns segundos e me diz que pare, que quer conversar, que talvez posso descartar a imagem das responsabilidades, caso bata um papo. Bato sim, bato uma, três, várias vezes e você goza de novo quando puxo tua cabeleira.
Saio correndo e esporro pela janela do apartamento. Lá embaixo, o ponto de táxi, a padaria, o sebo de livros.
Pego duas cervejas. Bebo a minha e depois bebo a sua, antes que esquente: você abraça os joelhos e finge dormir.
- Não é cedo para você estar bebendo ? Eu deveria mesmo estar aqui? E o tempo para pensar em todos prós e contras ?
- Você está sentada em cima do maço de cigarros. Passa aqui, por favor.
- Toma. Pega uma bem gelada pra mim. Tem uísque ?
No banho, como você por trás. Lambe o azulejo, cerâmica insuflada. Temperatura de arrepio e descamação da pele.
°
Telefona e parece que no escritório as pessoas acreditam na história. Eu não tenho para quem telefonar. Faço a barba e você corre pra me abraçar.
- Coloca um som bem legal ? Agitado. Quero dançar! Como estou feliz, amor...
°
O dia está ensolarado e nós de mãos dadas, você balança nossos braços e conta mil coisas sobre umas conquistas, um curso de alemão, e a tese de doutorado. E como sempre gostou de ler minhas coisas.
- O que é sempre ?
- Seu chato ! Me compra um pão de queijo!
Rimos juntos e a criançada chuta bola no muro do cemitério municipal. Parece que nada pode andar para trás, imagino seus pés escorregando no suor da sandália e tenho outra ereção. Mas ali estão seus pés e eu não preciso imaginar porra alguma. Me ajoelho na calçada e beijo cada um dos seus dedos, acaricio as panturrilhas e elas são caules sagrados. A criançada ri. Eu rolo no chão e finjo uma convulsão. Você manda beijos para todos que passam. Ônibus buzina, a tia da banca de jornal bate palmas. E mais que tudo, preciso caçar um pão de queijo em algum lugar que te mereça.
°
Vamos viajar. Vamos comprar um gato. Vamos nadar no mar.
Vamos correr no parque. Vamos cair com tudo no gramado. Vamos rolar ladeira.
Te faço barriga, te faço um livro novo.
Me faz um sorriso teu.
E me diz onde compramos parênteses para colocar no tempo.
Dentro da lanchonete está escuro. Você engole coca-cola. Eu engulo a seco.
°
- Você está legal, amoreco ?
- Vamos voltar pro apartamento.
- Tarado !
- Linda...desde a lanchonete. Já demos volta no quarteirão de cima, vimos as vitrines e comprei essa rosa...
- Maravilhosa.
- Tem um cara seguindo a gente.
- Puta que o pariu. Não brinca.
Você começa a olhar para trás. Belisco seu braço.
- Faz o que eu mandar.
°
O andar está escuro. Apenas a luz vermelha do interruptor. O elevador vem contando os número na parede. E chega. O tipo: alto, blusão imitando couro e manca um pouco da perna direita. Antes que ele possa acender a luz, é nela que eu pulo, colocando meu peso contra o joelho. Um grito e caímos no chão. O elevador desce e tudo escurece. Alguém ouviu o merda berrando. Segura minha garganta e além dos dedos, tem algo frio. Uma lâmina. Chuto com força o joelho, estamos escorregando no piso liso. Ele sente a dor, mas não desiste de aproximar o canivete da minha cara. O motor de elevador treme, zumbe. Preciso soltar um dos braços pra fazer apenas uma coisa e tem que ser rápido. Ele corta uma tira da minha orelha antes que eu arrebente sua cabeça contra a porta de incêndio. Após três pancadas, ele pára de respirar. O elevador ficou parado três andares abaixo.
Toco a campainha e você abre imediatamente. Ao contrário do que eu esperava, você não grita. Me ajuda a carregar o corpo.
Limpa o sangue e os ossos lá fora, enquanto eu ajeito o sujeito no banheiro da empregada.
°
- Meu marido sabe.
- Ele desconfia. Só isso. O que ele tinha pra saber morreu com esse cara.
- Não posso voltar. Ele me mata...
- Você deve voltar. E chegar sorrindo. E trepar com ele.
Parece que ela não pensou duas vezes antes de aceitar a idéia.
- Vou. Mas e você. E o corpo desse filho-da-puta ?
- Isso é comigo.
- Jura ?
- Claro.
- Ai, meu Deus.
- Vai amor, eu te ligo.
- Você vai se livrar, né ?
- Tenho alguns amigos. Espero até a noite. De madrugada não tem porteito. Tiramos ele daqui e levamos pro lixão. Fim de papo.
- É bom eu ir rápido, cê não acha ?
- Acho. Vai.
- Te amo até o fim do mundo.
- Eu sei.
- Vamos nos ver de novo ?
- Com certeza.
°
Dou meia hora depois que ela saiu. Estou com o celular do morto ao meu lado. Na casa dela, eu sei bem, tem identificador de chamadas. Mato-grossenses cornos e com grana.
A carteira de identidade: Macavú- Pernambuco.
Isso me dá um sotaque.
Poupo palavras para dizer que ela está limpa. Teve um almoço de negócios com o pessoal de um escritório, na praça de alimentação do shooping.
"O som tá alto, Casimiro..."
"Tô na rua."
"Tem certeza de tudo ?"
"Segui até o aereporto..."
"Obrigado, Casimiro."
"De nada, é meu serviço."
"Você está estranho...não sente saudades de mim?"
Fodeu.
Lascou.
"Sinto...claro, sinto demais sua falta..."
"Você entende que não era ciúmes dela, não entende? É honra. Honra, meu cavalo. Você ainda é meu cavalo gostoso, Casimiro?"
" Sempre."
"Volta. Vamos passar o fim de semana na fazenda? Quero você me fodendo."
"Quero comer mesmo esse rabo."
"Assim que se fala...cavalo..."
"Me espera na fazenda já? Me deu tesão arretado essa história toda."
"Safado. Puto. Vou dispensar o pessoal do casarão."
A passagem, a passagem....aqui.
"Chego de noite."
"Te espero de banho tomado, vem que teu urso tá querendo."
°
Enquanto remexia nas roupas de Casimiro, encontrei tudo que precisava. Eu já tinha visitado aquela fazenda duas vezes. Foi na carteira que eu encontrei uma foto.
Uma foto dela.
E uma carta escrita em folha de caderno. Eu conhecia bem aquela letra.
E aquele jeito bem puta de escrever.
Ela dizia que o pau de Casimiro era o maior que já havia chupado.
Que ela adorava quando ele esporrava na cara, nas tetas.
Que fora o corno, só tinha ele.
°
Minha cabeça latejava enquanto eu arrumava uma mala pequena. Poucas coisas. Eu não tinha motivo pra demorar lá no Mato Grosso.
Descobri que sou rápido para acertar algumas coisas.
Pedi pra aeromoça um comprimido pra dor e uma cerveja.
Dormi sorrindo, com uma sensação gostosa esquentando o peito.
Algo como um sentido real pra vida.
Ou a alegria do desprezo.
°