quarta-feira, 25 de julho de 2007

Eu Pendendo Você: Caio em nós - ( ou Psico-Cigar )


(Foto: Paulo Castro )
Saudades mentirinha de quando o barco( musgo na alma ? Só rindo...) pendia pra algum lado. Agora existe uma calmaria de miséria( os marinheiros pescam fantasias sob a forma de pedaços humanos plastificados), sobrando ao plural capitão pular no mar com a boca cheia de areia, espermartozóides e óvulos, nadar sem mastigar, sem deglutir, cantando uma canção apenas na mente. Mentirinha.
De forma que preciso aqui no navio de doadores e fornecedoras. Não precisam correr, já afundou, já chegamos no pé, agora é uma questão de querer ou não que a barcaça crie raízes e que com isso, constituamos em um futuro impreciso, algo que já se sabe falho: uma sociedade, alguma comunidade, férias com máquina fotográfica, horário para acordar, em que o breakbeast substitui o despertador de trabalho, convenhamos afinal: Proponho uma anti-Arca de Noé.
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A fantasia é entendida pelo matema:
$ <> a
Onde $ é o sujeito barrado e "a" é o objeto perdido.
Sujeito barrado de que? Essa é fácil: pelo próprio princípio próprio que permite chamar alguém de "sujeito" e que entendamos do que se trata. Sem entender porra nenhuma, na verdade. Barrado pela linguagem. Que se permite o fato de um papo com café na padaria poder acontecer, permite também que a gente se saiba como limitado, nunca o sonho. Ou você acha que sonha apenas quando está dormindo, quando deixa de ser, por que ?
E que objeto perdido, cara pálida ?
Um dia você teve fome e deu que chorou. Pela primeira vez. E sua mãe te faz uma surpresona. Aparece com aquele tetão magnético. A coisa é tão boa que você pensa: Toda vez que eu chorar, vai aparecer algo assim, tão bom ?
E chora de novo.
Mas o que volta é o tetão. Só que você não quer ele. Você quer outra coisa: a surpresa, o gozo dessa novidade. Mas o mundo só te oferece tetão. Ou coisas que sejam substitutas de tetão( clássicos dos Rolling Stones, chocolate, coisas do tipo ). Mas nada mais que tenha tamanho impacto de surpresa satisfatória. O Objeto "a" é essa coisa que você não esperava e veio, e que depois que veio, nunca mais nada virá causar o mesmo. Lacan não disse, mas disso tudo, como podemos deduzir, decorre que após a sucção inicial, só nos resta o tédio e uns balões a cada aniversário. E presente de dia das crianças até sair da casa dos pais. Que pais ?
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Tem um pedaço de fogo na minha garganta. Bem cortado, dimensionado, medido. Ele não queima como poderia queimar, mas é tudo que tenho. É também o que me cala, ouvindo as pessoas, sem nada mais a acrescentar.
Tem um pedaço de pessoas dentro da minha cabeça.
Tenho medo de levar o fogo para cima e me tornar um assassino. Tenho pavor de trazer as pessoas para baixo e acabar engolindo o pouco de chama que me foi aventado.
Por isso que não sei o que dizer, por isso que também não te beijo.
Você entende ?
É minha, de toda gente, natureza de perpétuo ovo de dragão.
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O sujeito barrado, o sujeito que fala, escreve, pensa com imagens e palavras, está em constante relação com o tal objeto perdido. Essa relação que se chama fantasia. Mas olha só: a relação sugere o que ? Que uma coisa nunca vá se tornar outra, ou a equação some. A fantasia some. E se a fantasia não some é porque, novamente Stones, não existe satisfação.
Nunca haverá mais. Só houve uma vez. Melhor seria se nunca tivesse ocorrido, então a palavra "esperança" não existiria, simples assim. Grande sacanagem aquela primeira mamada. Enorme trairagem da natureza. Mas se não tívessemos mamado, estaríamos mortos. Pois é. Aí que começo a rir até meus bagos virarem vaga-lumes: A vida viva é uma tremenda escrotidão. No dia em que inventarem a retirada desse câncer chamado fantasia, sou o zerinho na pesquisa.
Mas sobra outra questão: se há um relacionamento entre $ e "a", isso ocorre pois é possível transitar de $ até "a", o que podemos entender, mas também...de "a" até $.
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Coceira em todo lugar eu já vi. Menos essa até agora, como me dar um nome depois de agora, sempre ?
Há duas semanas a parede do meu quarto começou a coçar.
Acordei com sede e não era líquido que matava, acordei suado e estava frio em todo canto, acordei ao lado de uma mulher que nunca conheci e ela disse "que foi, meu grande amor?".
Comi a sede, queimei o suor e a pele, à mulher eu disse que a queria para todo sempre véu e amém, mas apenas se ela se submetesse a alguns meus caprichos particulares. Fugiu pela janela do apartamento, sem olhar para a frente.
E não era nada disso.
Vi a parede e ela coçava em mim.
Branca, o concreto aparecendo pela rachadura em forma de mapa-mundi por descobrir, era naquele rasgo que eu coçava-me outro. Prurido que não era dentro, que não era fora.
Era no espaço entre eu e a parede. Branca e fixa, pois é.
Minha avó falava antes de perder os dentes: "Comer e coçar é só começar".
Prurido coisa boa: quanto mais eu enfiava as unhas na parede, mais a coisa ficava êxtase por fração de mínimo, de um bom ótimo além tanto tanto que vai pra lá da palavra e vive em um abismo entre meu umbigo e o primeiro átomo que deve existir logo após a parede, o primeiro pedaço de ar, a primeira instância da amputação do espaço que reconheço como meu, como eu, imagino. Que mundo explosão sem esforço.
Sim, eu tentei. Saí correndo, tomei o elevador, peguei a rua, saltos na corrida. Mas. Mas sei lá o quão longe, o bastante para que, fora da minha vista, dos meus dedos, da minha língua lambida nos inocentes cupins, paradoxo em cada olho chorando, eu sentisse a parede do apartamento me enlouquecendo de coceira lá nela e apenas nela em mim. Vomitei nos estrados das ruas e carros acamados de tanta movimentação, e minha última janta tinha o gosto que teria a palavra que falta aos amores todos antes do começo. Voltei deliciosamente, ou seja: em um misto de angústia e certeza de satisfação.
Cavei o buracio na parede, no tempo em que estava livre de atender campainha, telefone, e-mails demandosos. Me encaxei nele, não sou pequeno, o tamanho fiz exato, sem o saber, no entanto. Nem aquele átomo exultante de sobra e falta. Não tenho mais como despencar para dentro ou tropeçar para fora. Estou preso. A bomba amarrada às minhas coxas vai explodir em três minutos. Com os dentes gemidos ares, trago os ponteiros do relógio anexado sempre ao três minutos. Toda vez que faltam apenas três segundos.
"A vida, saiba, precisa de um sentido para se viver". Como diria minha mãe, enterrando os dentes da avó na quente terra ao sol, lá do quintal confortável que não mais existe em nenhuma memória, nem jamais existiu.
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Baudrillard vai fornecer a melhor interpretação dessa rota de fuga, do objeto "a" até o sujeito barrado. Não sei se Baudrillard sabe disso, mas eu sei. Quando ele diz que os objetos se vingam, finalmente de nós. Apenas acho que ele deixa algo atemporal como sendo contemporâneo. A vingança do objeto sempre existiu. Vejamos a lei da ação-reação, mas sem ingenuidade. Batemos em um objeto e ele devolve a pancada. Mas o que nos fez escolher aquele objeto para nosso soco ? Apenas a proximidade ? Não sabemos a razão.
Não saber é que algo escapa da nossa capacidade de significar.
O que escapa ? O que não pode ser dito, o que é a materialidade da linguagem. Lacan chama também o objeto "a" de "materialidade da linguagem", ou letra.
Isso mesmo: achamos que escolhemos, mas quem nos escolhe, de uma forma misteriosa, ancestral, visceral na coisa, é o objeto.
Quando o objeto nos ataca ( $ <-- a ), somos nós os objetos: somos o absurdo. O vácuo sem fim de um objeto besta atacando e sendo atacado por outros objetos ridículos para todo sempre, geração a geração.
A análise calma da equação fantasiosa nos prova, assim: Não existe essa ficção chamada sujeito. Não existe eu.
Não existe você.
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Ops...o barco está afundando em direção ao céu. Alguém me passe apenas o filtro molhado de um cigarro ?
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"Esta linguagem é pura. No meio está uma fogueira
e a eternidade das mãos
Esta linguagem é colocada e extrema e cobre, com suas
lâmpadas, todas as coisas.
As coisas que são uma só no plural dos nomes".
(Herberto Helder)
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segunda-feira, 16 de julho de 2007

Listinha Pela Não Edificação.


Muito bem. Fiquei sabendo há pouco sobre umas listinhas que estão acontecendo por aí, ( aí = mundo dos insinuantes e petulantes blogs literários, entre os quais introduzo o meu com ou sem trocadilhos) um jogo de montar listas dos livros que mais colocaram fogo nas cabeças dos escritores. Cinco livros, cinco escritores por blog. Isso mesmo, a idéia é a mesma da corrente, quebrou cai um dente.
Aqui, nesse jogo, não sei o que acontece no caso de quebra. O escritor nunca mais vai conseguir publicar um livro? Pode ser. O que em um bom número de casos, seria uma benção dos céus. Mas como quem escreve está meio que pouco se fudendo pros céus, eu me vejo diante de uma grande indiferença quanto às regras: Quais os meus 5 livros prediletos, canônicos ( Sacaneei, Harold Bloom !) , de toda minha inútil vida ?
O escritor, antes de mais nada, tem duas profissões no mínimo: a primeira delas é ser obrigatoriamente um leitor. Não existe escritor que se preze que não leia. E ler é verbo amplo, passeia pelos clássicos ( mesmo se for para se engessar um pouco, conter ímpetos) e pelos contemporâneos ( mesmo que seja para dar uma rebolada tediosa em algum boteco da Vila Madalena), e faz de tudo para transformar contemporâneos em clássicos.
Dessa forma, como eleger apenas cinco ? Método : jogando pra cima. Pode ser. Eu peguei alguns que penso contribuir para quem vem aqui. Livros essencias, que eu me sinto a ala vontè para resenhar, e cuja leitura tenha uma boa dose de prazer, mais que de obrigação. Nem todos aqui são escritores, nem todos são obrigados a ler o que nós somos.
Resenhar no jogo que apresento, por convite-maldição de JEAN CANESQUI (http://aoficinadodiabo.blogspot.com), que por sua vez foi forçado por ALEXANDRE HEREDIA, significa brincar com os textos. Não estou escrevendo para Veja. Nem para a EntreLivros, que meus netos me perdoem pelaquela triste vez. Vou falar o que bem entendo sobre os cinco escolhidos a dedo com esmo. Do jeito que eu quiser. Com o tesão que me deram, nos aspectos que me gritaram em ressonância com meu espelho.
A gente se espelha. Autores, outras histórias, mitos, lendas, maneiras de se relacionar e de morrer. As grandes histórias já foram contadas e não são muitas, na verdade, menos que cinco. Bem menos. O resto é variação, simulacro, alegoria e alguma safadeza mais ou menos esperta.
Os meus 5 livros estão fotografados por mim, aí acima, sobre um cobertor. Hoje chove aqui e faz frio. É para esse ambiente de calor que quero trazer essas histórias( optei apenas por romances, já que não vi, nos outros dois caras, ensaio, poesia, filosofia, física quântica ou atlas geográfico...não sou eu que vou quebrar muitas regras de tão literata corrente), essas frases, essas letras e quem por ventura pintar aqui durante o tempo de permanência do atual post. Aconchego, paixão por esses autores. E pelos leitores que venham a se apaixonar também por eles.
No fim da minha lista ( chamada no jogo de Meme) invocarei o nome de 5 escritores que tenham blog, para continuarem o Big Brother Acadêmico Diletante. Confiram, sigam, acompanhem. Obviamente, vou privilegiar amigos. Quero cuidar bem dos meus livros: que tenham boa vizinhança é o mínimo pelo que posso lutar.
Ok. Vamos aos atores principais e seus atos:
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1) Um Copo de Cólera - Raduan Nassar.
Raduan foi um grande escritor, apesar de ainda estar vivo. Uma personagem minha ganhou seu nome. Ele não é mais um escritor. Parou com tudo e virou Rimbaud bucólico. É o único autor brasileiro da minha lista, o que deve servir para mostrar o grau de meu otimismo ufânico. "O Copo" é seu livro mais fininho. Quase escolar de férias. Mas é um impacto sobre a maneira como até então foi descrita relação amorosa. Homem e Mulher. Uma chácara. Sozinhos por dias. Eles se amam, eles sentem tesão um no outro. E muita, mas muita raiva. A raiva que só o amor faz suportar para esquentar o ventre. Raduan descreve de forma a causar asma satírica no leitor. Falta ar, chia o peito e ainda endurece a pica. Teve o filme do mesmo nome, fez um certo furor: o casalzinho lá parece que trepa mesmo na frente da lente. Mas que nada, sai da minha frente que eu quero passar e ficar bem bêbado infinitas leituras com o copo de cólera. Ou seja, nunca mais me apaixonei do mesmo jeito. Quem viveu sabe e a delagacia da mulher também.
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2) Trópico de Capricórnio - Henry Miller.
Falar de um livro de Henry Miller é falar de todos dele. O único autor em que eu perdoei a mesmice. Ele é o si mesmo de cada linha. Que porra de eu-lírico o cacete. Que meio história autobiográfica, se melhorando nos azeites. Ele não: fazia questão de se piorar. O que não pensem os incautos, fazia dele um imoral. O homem que se condena em público é o mais moralista de todos. Um dia, pra quem não entendeu, eu explico. Tanto faz se de Capricórnio, Câncer, Sexus, Plexus, Nexus, Primavera Negra, tudo a mesma merda maravilhosa. O escritor que não desiste de ser ele mesmo. E de ser escritor. De amar as mulheres. Magoar as mesmas. Subir aos céus com os amigos ( Miller, como disse Érica Jung, antes de um pornógrafo, é um místico). E trair, na próxima página, os mesmos amigos. Como, sendo tão inseto, o humano é ainda o maior barato que existe ? Miller prova. Eu tive problemas com a bebida na época em que o li. Eu achei que vivia entre Paris e Nova York. Eu mandei minha mulher mudar de nome. Eu mudei de nome. Eu recomendo essa danação.
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3) Almoço Nu - William Burroughs.
Muitos erram sobre Burroghs e sobre a "Geração Beat". Foram autores muito diferentes entre si, com livros muito heterogêneos no mesmo autor. Mas talvez "Naked Lunch" seja o único imortal. E isso não é pouco. Raros livros escapam de uma tarja, de uma etiqueta, rótulo como vocês dizem. Burroughs escapou. E olha aqui, não há um escritor de hoje que não cobie em alguma muita coisa esse sacana. Mesmo que nunca tenha lido o mais infernal dos almoços. William, após matar a sua mulher acidentalmente ( ? - uma brincadeira [ ??? ] de Guillherme Tell com uma automática) escreveu isso aí. Drogas, barra pesada, homossexualismo, criação literária, espionagem, poesia, jazz, viagem para Tânger, surrealismo único, etc e mais alguns etcs. Como coube isso tudo em único livro e mesmo assim, manteve a pegada, se fez paradigma literário ? Pois é. Como diz a EmeTeVê, é por isso que "Almoço Nu" ocupa a nossa sei lá que posição. Para quem tá sem saco de ler, vale tanto quanto o filme baseado na obra, do David Cronemberg. Quem for esperto, injeta o livro e dá o bunda pro filme. Gozão.
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4) Viagem Ao Fim Da Noite - Louis Ferdinand Cèline.
O melhor escritor de língua francesa de todos os tempos e acabou. Fim de papo. Quem ? Proust ? Mallarmè ? Baudelaire ? Que nada. Cèline. E esse é o seu melhor livro. O que pegou que ninguém conhece o sujeito. Ueba, essa parte é boa. Ele foi o maior escritor anti-semita da história do nazismo. Sim, os próprios nazistas ficavam assustados com seus panfletos contra os judeus. Isso me soa engraçado. Os próprios nazistas. Se para você soa assustador, relax. No "Viagem" não há essa pregação. É literatura em sua máxima potência. Um homem que do nada ( mesmo, sem chances ao psicologismo) resolve virar soldado e ir pra guerra, nesse caso, a Primeira, sem acreditar em porra nenhuma. Não é um romance histórico, nem fudendo. É menos histórico que A Divina Comédia, só que Cèline escrevia bem melhor que o Dante. Corrosão, sobrevivência e colhões de aço. É com ele mesmo.
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5) 120 Dias de Sodoma - Marquês de Sade.
Todos acima são filhos desse livro. Aliás, todos nós, homens, mulheres, bestas, bancários, menopausadas, escrotos, psicanalistas, enfim, a corja humana toda é filha de Sade. Um livro que se passa em 120 dias. E pra que tanto ? "Ulisses" de James Joyce é apenas um dia e por isso mesmo é genial ! Tá, ok. Mas Joyce não seria capaz de enumerar, profetizar, literalmente mesmo esporrar, cagar, mijar, assassinar em cima de cada uma das todas taras humanas. Pensei em todas que já cometi, as que tenho vontade, as que tenho nojo, as que nunca pensei até então. Pois é. Estão todas lá. Quando o Marquês escreveu a história de nossos "heróis" libertinos, estava preso na então Bastilha. Na confusão revolucionaria e punitiva, achou que o livro tivesse sido perdido para sempre. E assim, todos os seus livros seguintes foram reflexos melancólicos de "120". Mas não se perderam. Foram bem escondidinhos. Livro mais maldito nunca houve e nunca haverá. Por isso sumiu. Na ascendência do modernismo europeu, uns doidos fizeram a coisa vir à tona. Ninguém mais sobre a Terra, mesmo que não leia, poderá ser salvo. Que bom. Mais divertido assim.
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Isso aí.
Agora, vamos as nomes dos próximos no joguinho.
Deixe-me escolher...
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ESCOLHIDOS ( Favor segui-lôs, são ótimos para o fim proposto) :
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Carol Custódio : http://naselva.com/carol
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quarta-feira, 11 de julho de 2007

Simone e o amor.


(foto: Paulo Castro )

Mais que um ato, o gesto. Mais que o repouso, um abandono. Simone espera que eu conte sobre os "melhores anos" de sua mãe, aqueles em que interrompe a feitura do mais cotidiano dos diários, com a derradeira anotação: "Acho que amanhã vou conhecer o homem da minha vida". Nesses anos em que Simone estudara em Roma, com o mesmo tom de farsa que agora, no encontro, está ausente. Daqueles tempos em que sua mãe desaparecera, ao que tudo indica, por causa de "outro homem", que não seu pai.
Já adulta- e bonita, alta, delgada, feita de ângulos de captação do meu olhar( ponho e pus a culpa na imagem fora de mim, não cedendo à ânsia do suor, nas mãos e pés, sapato apertado que lateja, dedos sem anéis que garroteiam uns aos outros : devo parecer o que sou, antepassado), sentada diante de mim naquele restaurante em que almoçam todos os viajantes da estrada tumultuosa. Já grandinha - e tinha olhos e lábios, deste modo - para entender que certas escolhas acaloradas da vida é que definem as vírgulas de um sintético epitáfio.
Mas desafia-me, Simone, a preencher com o que eu teria para contar, nada menos que o verbo lapidar. Tento segurar a pompa dentro do peito insuflado: veja isso, Simone, que palavra é essa, veja que adjetivo, diante da humanidade que você me obriga, lapidar. Quem sabe verbo, se eu pudesse requerer uma biografia da minha intimidade obscura.
"Tem aí alguma fotografia daquela época?" - reinado de seu cigarro assoprado e disperso no ventilador de teto.
"Umas memórias, pretensões passadas, eu acho".
"Conte o que lembra, mesmo que trema desse jeito."
"Um cigarro...do teu?".
O diálogo é um vício ao qual nunca me entreguei. Mesmo a mãe de Simone ficava perplexa com a maneira com que eu resistia à sonoridade de significar alguma coisa, dessas de restaurantes e estradas ainda sem objetivo. Mas terá sido como a vida de Simone em Roma? Quantos amantes? De que forma desenvolvera esse ar de hostilidade na carne? Resisto, segurando na pompa, a fumaça cinzenta. E cruzando na altura de minha boca, erosão e secura, tensas, lacradas.
Porém, sinto que se eu não disser nada, nada oferecer, um resto de significado cuspido pela garganta, ela pode mais que apenas fugir, Simone, fugir de mim:
"Que milagre, as páginas amarelas, pensar que você me achou e que...".
"Quero folhear agora as páginas amareladas".
Não sei que gatilho foi disparado bem no frio da barriga, mas explodiu em gargalhada, dessas sem explicação nem causa, sem galho ou laço. Uma daquelas risadas tossidas, de modo que em lágrimas, Simone se desfaz em curvas fechadas, luminares, na minha frente. Que até me falte o ar, assim respiro aliviado em algum outro lugar interno, mas não suma, Simone. Até que vem a batida grave e repetida nas costas, o garçom me salva do que, com certeza, interpretou ser um engasgo fatal. Aponto as azeitonas empapadas em óleo, intocadas entre eu e ela, como se com isso, explicasse tudo, a geração do universo, das espécies, infâmia e traição. Azeitonas roxas. Que no entando, nada têm a dizer sobre a mãe do inquérito.
Vendo que estendo a mão por tempo demais, teatral indignação, o pires já nem mais ali na mesa, recolho-me em braços cruzados e coriza. Mais ainda, me abraço e enfio os dedos nas omoplatas que eu não me sabia tão curvas0. Se não estivesse com algo como febre, eu estaria muito sozinho com Simone.
"Você está bem?".
"Acho que não tenho nenhum atestado para me salvar dessa vez, sabe, a loucura, quem dera ser expatriado, colocado em caixa de papelão, nos arrebaldes da cidade, fechado e lacrado com fita grossa, até que perdesse - veja bem - não a esperança, mas o receio em ser encontrado. E se algum viajante exaltado de caos resolvesse ali enfiar sua faca, quem poderia me condenar se eu tivesse outro ataque de riso, como esse de agora mesmo ?"
Apesar do meu empenho, Simone não riu da piada. Saiu do seu abandono e gesto de ser angulosa, lisa, de uma irritação dissimulada em compassividade, apoiando os cotevelos na mesa, quase pronta a morder, ágil em não haver mais distância entre eu e sua seriedade bonita, assustadora, prenúncio de que entrava em embates dos quais saia apenas um para contar a história. Uma constatação confirmada da suspeita. E assombrosa. De todo modo, eu poderia lamber a sua testa nesse momento, enquanto ainda estávamos a dois, vivos. E finalmente, o restaurante na beira do nada voltou a fazer barulho de existir, mesmo o mundo, os carros e ônibus estacionados lá fora, a menina que chorava: leva tapa na cabeça mas não larga da mãozinha o molho confuso e magnético de coloridas fitas de Nossa Senhora Aparecida.
"Eu realmente quero saber da minha mãe. Não pense que foi fácil achar você".
Ela desejava mesmo entrar no mérito da dança. Que fôssemos. Eu, do meu lado, já não tinha lá muito o que temer, nem ao menos a piedade, amor à vida, como dizem os que andam nos acostamentos de mais além. Tirei os pés dos sapatos, sem reticências, no chão frio da vontade de avançar:
"Simone. Ouça, Simone. Tudo que ela foi, é você. Idênticas aos meus olhos. Mesmos gestos, além da petulância desrespeitosa. E já que é tudo isso, me deixe então falar. Sobre o amor. O amor, Simone. E o susto que daí sempre decorre, Simone. E você, suponho que aceite. Uma nova e repetida aventura, de certo..."
Agora não tem mais o que achar ou supor. Eu tentei lhe proteger, até obssessivamente, Simone. Minha Simone. Agora. Minha.
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quarta-feira, 4 de julho de 2007

Pop Curtinhas.




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Fui numa festa já faz um tempo, em que havia um nenem e muita gente louca.
Os pais estavam pisando no teto, e eu na falta do que fazer, fui ver aquilo: os vinis.
Esse povinho chapado sempre tem vinis.
Agora resolveram que querem ter filhos e conta no banco.
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Fico muito preocupado com o destino do rock and roll nacional.
Claro que existe uma exceção: o rockinho gaúcho.
Como tudo que vem lá do sul, a coisa é bem bacana.
Tipos como Frank Jorge, Graforréia e principalmente o Júpiter Maçã.
Aqui, todas as citações serão de demos do Júpiter.
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"Me faz sorrir...me faz gozar
Eu vi a minha namorada saindo do banheiro com mais três caras
mas sim, ela sabe o que faz"
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Outras festas, do tempo da faculdade, a gente tomava vinho e dançava as músicas mais óbvias.
E esquecia que fazia a tal da faculdade.
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"Quando você der pra outro cara,
Lembre-se que alguém se masturba
Alguém do outro lado da cidade
Se sente em sintonia e pensa em você
Estou ligado na sua
Essência interior"
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Eu tenho uma filha e comprei um mp4 para ela de aniversário.
Nos aniversários dela, desde o nascimento,
existe Fanta, Coca-Cola, Bolo de Chocolate e um de morango que é um arraso.
Ela ouve rock and roll no mp4 e eu fico orgulhoso.
Como bom pai, fuço no mp4 dela, pra ver se não há lixo.
Ainda bem que não encontro nenhuma faixa do Cd. MTV ao vivo 5 bandas.
Frenso, Hateen, For-Fun, NX-Zero e Moptop.
É uma coleção do que há de pior.
As rimas são feitas de gerúndios compulsivos.
A última faixa, é "O Rock acabou?".
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Ah, músicas originais de Júpiter Maçã, pra acabarmos com as mistificações paulistas-baianas.
Miss Lexotan 6 mg não é do Ira!
É dele.
E principalmente:
"Lugar do Caralho" não é do Wander Wildner ( poderia ser), e nem fudendo que é do imbecil Raul Seixas, aquela trolha que usurpou a barba de Tostói.
Tenho ambas as faixas originais aqui.
Quizendo,
é só pedir.
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Pra quem quiser encarar umas de saber quem foi Tostói, não precisa encarar Guerra e Paz ou Anna Karenina. Seria o aconselhável, mas hoje é só de curtinhas pop.
Comprem a edição "O diabo e outras histórias", da Cosac & Naif, a editora mais fodona do brasil brasileiro.
O cara come uma camponesa, depois se casa com uma burguesinha meio frígida, mas não consegue esquecer a mina que ele traçava nos bosques e atrás dos casebres. Acaba metendo um balaço na cabeça. E tem final alternativo! Ele mete um balaço na camponesa safada !
Esse é o tio Leão, Leão Tostói. Como se fosse hoje, comigo ou com você.
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Tenho saudades de uma pá de coisa na vida, mais coisa que gente, mas do meu programa de rádio "Leite Condensado" na Unicamp, o peito aperta. Lá a gente bebia vinho e colocava e cantava músicas estranhas.
- Alô, alô, garotas da moradia estudantil...aqui é a turma do Leite Condensado...nos tragam uma pizza e ganhem um esporro na boca, entre os dentes...
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"Orgasmo Legal
Orgasmo Legal
é isso que ela me dá...
Ela me dá orgasmos legais que deixam meus dias legais...
Nuvens carregadas não me assustam não mais.
Crises de mau humor não me incomodam
Orgasmo Legal é o que ela me dá.
Eu me dedico de coração pra dar a ela
orgasmos e tesão !
Por isso é horrível quando a gente discute,
vai pra cama sem gozar!"
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O rock tem que ter algo de bobagento, inteiro mequetrefe, pra ser bacana.
E deve-se manter nesse limite entre a tosqueira simpática e sorridente ( dente cinza)
e a estupidez de rimar gerúndios.
Ou a chatice de rock cabeça.
Rock cabeça é a anti-foda.
Saca Morrisey, o pai dos emos ?

Me diz se não é música de gente que não fode ?

Tipos: Com algum defeito que não encara superar.
Então.
Música pop é pizza com catchup pra se comer assim mesmo, com cuspes e guitarrinha de fodelança sacana. Sala Especial. Saudades da Record 1980, totalmente profana e punhetária.
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"Uma bruxa tipo mariposa
Minha melhor amiga morreu do meu lado,
ao lado da minha cama,
a bruxa mariposa..."
°
É como escrever em blog.
Quem pensa em escrever verdadeira poesia aqui ?
Sejamos sinceros.
Isso aqui é consumo puro.
Vem a putinha e diz: Paulo, você está fraco.
Tá esperando o que, lacráia ?
°
O que significa J. deep e K. richards abraçados na capa da Rolling Stone ?
Caralho, o que eu acabo de falar.
Os dois são ótimos e gatos, as artroses de richards me excitam, Deep é tão profundo como o Conde de Rochester, e sexual como tal.
Mas ganharam uma grana sadia bebendo, queimando e rindo nos Piratas do Caribe.
Errados ? Rasos ? Capitalistas ?
O filme é um barato.
Chato é você.
E vamos com mais Júpiter Maçã:
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"Eu deveria me converter ao hinduísmo
Comida vegetariana
Mantras e Krishinas
(...)
Queria cantar como o Beatle George:
Aleluia Hare Krishana, Aleluia !"
°


Depois veio o babaca do Nando Reis e fez algo sério parecido com isso.
Gravou a filha dele correndo no meio daqueles carecas do mal.
Eu faria uso do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Aposto que ele não controla a desqualidade do que rola no mp4 da Zoé.
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Tenho medo do futuro das nossas crianças.
Ou sérias, do tipo que casam com caras chatos, médicos assumidos, advogados, engenheiros, e não sabem rir de uma boa bobagem,
Ou dementes emocionais, que choram quando sentem a culpada vontade de dar risada.
A música emo é uma criação de laboratórios farmacêuticos.
Indústria anti-depressiva.
°

"Preciso andar com vocês...
Tomar um sorvete com vocês...
Preciso saber do Brasil...
E da gente linda lá do Rio...
Pois todo compositor contemporâneo
Precisa conhecer molécula de urânio.
Todo compositor contemporâneo".

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Além do programa do Leite Condensado, a gente tinha a banda de rock homônima.
Na última música, sempre eu fazia um "perfomaço", me masturbando com uma lata de Moça.
E daí aquilo voava no público e a diversão estava garantida.
Nada mais patético, isso deve fazer você torcer o nariz, mas se como eu, tivesse vivido isso, hoje não ameaçaria ser assim tão pé no saco, meu chapa.
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Pobre filho, cujo pai nunca vomitou abraçado na privada do bar.
Pobre esposa, cujo marido gosta de suas bochechas gordinhas bem perfumadas e machas. Se acha homem, mas usa pijama de botão marfim.

Pobre sujeito que não acha isso tudo divertido, leve, suave como uma foda perfeita.

Aliás: o melhor lançamento musical dos últimos tempos: A música daquela propaganda de carro: "Não tem cara de tiozão". Ver no meu perfil do Orkut. Depois vem o acústico do Lobão.

A melhor e mais barata sobremesa do pedaço: o pastelzinho de Belém do Habibs. Tô brincando não. A parada é de massa folhada real e tal.


E sempre, infinitamente ( antes da Marisa Monte ) , o rockinho gaúcho.

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Aos cools : A trilha sonora da série Nip Tuck. Aliás, só ali os médicos são gente divertida afudê. A vesão de "Fever" me traz polução diurna, noturna, sem contato manual.

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"Eu só fodo com você
Nessa fase atual da minha vida
(...)
E quando eu te visito pra
Tomar um chá
E a gente começa a falar
Tudo fica claro na minha mente
E a gente começa a trepar."

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domingo, 1 de julho de 2007

Fragmentos Sem Direito à Indenização.


Folhando a "Veja São Paulo", vejo um elegante chef de cusine com algo parecido a um lança-chamas na mão. A imagem chama minha atenção e vou procurar o nome do sujeito e o restaurante. A linguagem escrita tem dessas coisas, e por isso, devemos sempre ler com toda atenção aos textos mais medíocres, eles que guardam os sintomas da nossa decadência.
O nome do cara era Douglas. E o sobrenome, tinha três sílabas separadas. Der Van Ley. Parece algo chique, como o nome do diretor cult Gus Van Sant. Mas se você atendar à ordem das sílabas, verifica-se a lógica:
1ª) Van
2ª) Der
3ª) Ley.
Ou que dá a sonoridade: Wanderlei. Douglas Wanderlei. O sujeito fez isso com o próprio nome, por ser chef de cusine maçarico na mão. Será coincidência que o nome do bistrô seja "Recife".
Todo texto deve ser submetido a uma implicação preconceituosa, ou seremos ingênuos como os seres mais puros do sistema mental conhecido, os autistas.
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No meu último texto encontrei algumas resistências. É só ler nos comentários. Certo que algumas não foram comentadas abertamente, mas suspiradas pelos cantos esperançosos do universo, frustrados: O Paulo voltou a escrever putaria, ai meu Deus, ele não se converteu ainda?
De um lado, a moça que foi e voltou algumas vezes e disse que não iria mais colocar mortadela no meu sanduíche. A tal da Val dita. Ela comparou meu texto com uma punheta, como se isso fosse algo negativo. Oras, todo texto que se preza é uma punheta. Sem a ilusão de que é uma "transa entre escritor e leitor". O leitor é um bicho parasitário, ele se apropria do texto para o próprio gozinho. Sei por ler, escrever e seguir a evolução sexual dos olhos. Os livros são os substitutos fora do banheiro das revistas de sacanagem, um fetiche como qualquer outro. Não fosse assim, as mocinhas não teriam berrado de tesão ao redor do castelo de Rilke. Nem a confusão entre narrador, eu-lírico, próprio escriba, seus desejos, opiniões e estética causaria tanta rusga entre os casais minimamente intelectualizados. Se para o Flaubert, Madame Bovary c'est moi, para Val dita, Madame Bovary é uma puta cheia de pompa e metida à besta, exibicionista da beleza construída com engenho. Quem mandou ser tão interessante, quem mandou ter os pães abertos a receber as fatias de pastrame ? A vulgaridade vem sob a forma de uma mortadela negada, ou um prato do "Recife", vindo diretamente das mãos do chef Wan Der Ley.
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Outro mandou eu, antes de falar ou escrever bobagens, pegar no meu pau e chupar. Pois bem. Esse outro ou outra é alguém anônimo. Não vou gastar aqui meu pequeno e monoprodutor pau para questionar a coragem e a covardia de quem comenta de maneira anônima. Outros menos capazes fazem isso por mim. São mais pauzudos. Dito isso, existem apenas duas possibilidades, ou não tenho uma costela, como o Adão ou Marylin Manson, ou tenho um caralho gigantesco. Com nenhuma dessas coisas é verdade, muito pelo contrárias, não existe nada em fundamento na crítica, o que faz com que ela tenha o mesmo valor de um rap raivoso. Nulidade. Isso sim que é mortadela. Eu agradeço e guardo para os dias de necessidade.
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Em um mundo de "O Segredo" e "A menina que roubava livros" ( prende, porra!), achei "Frutos da Terra", o melhor livro de André Gide por 17,00 reais.
Não há do que reclamar em uma época medíocre como a nossa. Mesmo o prazer da busca é maior, a tonalidade de "raro" ganha seu delicioso aspecto burguês, o mesmo que justifica as tardes passadas no shopping center. O "achado" é o único prazer do intelectual. Prazer idiota, narcisista, clubinho de vernissages não disputadas. Que a mediocridade impere. Meu bolso agradece.
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Em "Frutos da Terra", Gide faz seus heróis mergulharem em encontros, sabores, vinhos, bosques, fodas, e poemas, com a única intenção de trazer nobreza à volúpia, papel maior da literatura, calando assim as bocas mais beatas que um dia ousaram pedir um livro de Natal, e com isso, ousaram emitir opiniões sobre as coisas. Ou seja, as Val Ditas da vida. Gide descreve os prazeres da sodomia de forma mais "espiritual" que todo um hinário litúrgico. Essa é a perversão que a arte domina, faz gargalhar e cospe com elegância no bueiro dos batismos no Tédio. Por 17,00 reais. Um prato do Van Der Ley custa R$ 210,00. No Recife, São Paulo. Ainda prefiro outro nome bonito, Win Wanders. No Paris, Texas.
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Se grande parte da literatura foi criada por homens, caso tivêssemos a capacidade de chupar nosso próprio pau, a punheta oroboro, o sagrado matrimônio com que mais amamos, a configuração da arte hoje seria outra. Madame Bovary estaria entediada não por um casamento morno, mas por uma luxúria cansativa, por um tratamemento crônico com o coquetel anti-HIV.
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O grande risco das alianças é que você limita em muito seus potenciais objetos de riso e infâmia.
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Mesmo que você limite sua vida ao mundo internético, ainda assim, tem como julgar seu valor intrínsico. Fiquei muito feliz em estudar a listagem das pessoas que me bloquearam no Orkut e no MSN. Um estudo ético-estético dessa trupe triplicou minha auto-estima. Tente você também. Claro que por sua conta e risco.
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Procurei o Douglas Van Der Ley no Orkut. Não achei. Gente chique não se mistura, ou só aparece em foto sorrindo de nada, para nada, sem nada. Algo como o "salve simpatia" a priori, que, pensam os marotos, guarda toda a sedução e gatice. Sou, antes de tudo, um bronco.
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Preciso ver se a Val Dita me bloqueou. Torço que sim.
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Ainda da "Veja São Paulo": capa: esposa do Serra. Ela é bailarina, psicóloga e...ONGUEIRA. Isso mesmo. Ongueira. De Ong. Depois atazanam os punheteiros, classe bem mais legítima, producente e cultural. Ouvi falar pela primeira vez da primeira-dama do estado através do departamento de Psiquiatria da Unicamp. O Serra queria que sua esposa virasse, do nada, docente da faculdade. Ok, pode ser, o que ela tem a oferecer? Bem...ela é especialista em ensinar ballet para pacientes psicóticos.
Daí o govarnador não ter dado plena razão aos baderneiros inúteis da USP é algo incompreensível.
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Será que o "Recife" tem serviço de Delivery ? Vou perguntar ao Motoboy que comentou meu último texto. Anonimamente.
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O grande problema em se fazer alianças é que você amplia em muito seus motivos para preguiça e tédio.
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E como diz minha amiga Carol "red fox" Custódio: "Porra, Que Chique!"
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Uma semana cheia dessa porra para vocês.
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